Crown Crow - Novel - Capítulo 03 - O primeiro corvo
Paulo segurava as rédeas com firmeza. Seu desconforto era palpável, e mesmo sem dizer uma palavra, Cauã podia sentir o peso da situação.
Sem entender completamente o perigo, mas reconhecendo o olhar sério de seu pai, Cauã sabia que deveria seguir suas instruções à risca. O clima leve e aventureiro que haviam compartilhado até aquele momento dissipou-se, dando lugar a uma atmosfera densa, carregada de medo e incerteza.
Pela primeira vez, o ar animado e feliz da aventura foi misturado com medo e inquietação. O barulho das galopadas era como um cronômetro, cujo última badalada ecoou na forma de uma voz autoritária à distância.
— Parem a carroça! — gritou um dos cavaleiros, a voz profunda e autoritária cortando o ar, enquanto levantava a mão em um sinal claro.
Simão levantou rapidamente tomando frente da situação. Antes de ir para a parte dianteira da carroça, sussurrou para Cauã.
—Não diga nada e abaixe a cabeça — Enquanto colocava um leve peso na cabeça do garoto com a mão, sinalizando que deveria ter cuidado, como se seu rosto não pudesse ser visto.
Apoiando-se no obro de Paulo, enquanto a carroça parava de balançar, Simão gritou para o guarda ao longe.
— Somos mercadores! Estamos indo para Brampton vender algumas especiarias de Stanston — disse Simão, a voz firme, mas com um toque de nervosismo.
O cavaleiro ficou imóvel, encarando Simão e Paulo como se fossem meros objetos por alguns segundos. Sem pronunciar mais uma palavra, ele lançou um olhar significativo para os outros cavaleiros, que imediatamente começaram a cercar a carruagem.
Enquanto todos mantinham o silêncio, a porta da carruagem nobre se abriu lentamente. De lá, saiu um homem alto de cabelos negros, vestindo trajes roxos com detalhes pretos, que transmitiam um ar de autoridade e soberania. Seus passos eram calculados, e ele parecia saborear o momento com diversão.
Simão e Paulo reconheceram imediatamente que se tratava de um aristocrata da casa Raven. Provavelmente, ele estava voltando de alguma viagem para o condado de sua família. O homem se aproximou, observando a carroça com um olhar minucioso, quase como se achasse graça da situação. Ele parou ao lado de Simão e, com uma voz firme, se apresentou:
— Me chamo Karten Raven, terceiro filho do conde de Raven. Diga-me, mercador, como pretende vender especiarias se quase não carrega mercadorias? Creio que uma viagem dessas não compensaria, certo? — Karten olhou fixamente para os baús ao lado da carroça, seu semblante sério agora direcionado diretamente para Simão, esperando uma explicação convincente.
— Estamos aproveitando o caminho para fazer uma viagem em família! — Simão respondeu, mantendo um sorriso forçado. — Meu garoto acaba de fazer 15 anos, e é importante que ele comece a aprender sobre o mundo, não acha?
Karten o interrompeu, estreitando os olhos:
— Creio que o educado seria se apresentar. Eu disse o meu nome, qual é o seu?
Simão hesitou, mas respondeu com calma: — Creio que Vossa Alteza não me conheça. Sou Simão Broenni, apenas um simples mercador.
Ao ouvir o nome “Broenni”, Karten esboçou uma expressão de surpresa, seguida por um leve sorriso sarcástico.
— Broennis, ainda existem? — murmurou, quase para si mesmo, enquanto analisava Simão como se fosse um objeto raro em uma prateleira. — Que curioso! A família de um marquês falido. Tentaram salvar seu legado com um casamento arranjado com os Raven, mas nem isso os tirou da lama.
Karten se aproximou mais de Simão, inclinando-se com um sorriso cruel.
— Só de pensar no sangue daquela puta se misturando com o meu já me dá calafrios. Ainda bem que aquela maldita não durou mui… — Antes que pudesse terminar sua frase venenosa, Simão, com um movimento rápido e inesperado, ele puxou sua adaga e a lançou em direção à garganta do nobre. Por um instante, o mundo pareceu desacelerar. Karten, que o provocava com aquele sorriso cruel, desviou por pouco, os olhos agora arregalados, surpreso com a ousadia de Simão.
No mesmo instante, o som metálico das espadas sendo desembainhadas ecoou pela estrada. Todos os cavaleiros, em perfeita sincronia, apontaram suas lâminas afiadas diretamente para a carroça, a tensão no ar quase sufocante.
Simão e Paulo, em uma fração de segundo, sacaram suas armas, prontos para o que viesse a seguir. O silêncio que se seguiu parecia prestes a explodir em uma tempestade de violência, enquanto cada respiração, cada mínimo movimento, podia determinar o destino deles.
Cauã, tomado pelo pavor, deu um salto para trás no banco da carroça, e o capuz que cobria sua identidade deslizou, revelando seus cabelos brancos. Karten, ao lançar o olhar em sua direção, congelou por um instante, seus olhos se arregalando de surpresa e algo mais sombrio. Como se uma onda de raiva e pânico o engolfasse, sua voz saiu entrecortada, muito diferente da calma anterior:
— ESSE GAROTO! ELE É SEU FILHO?! — bradou, apontando para o fundo da carroça, o dedo tremendo.
Simão, num piscar de olhos, fez um sinal urgente para Paulo enquanto girava em direção a Cauã. Sem perder tempo, Paulo levantou o antebraço, e com uma voz firme e cheia de poder, invocou:
— Vathrak t’ornas thor!
Uma parede de pedra ergueu-se com um estrondo, separando Karten e três cavaleiros da carroça, ocultando a visão deles e criando uma barreira. O olhar de Simão se fixou em Cauã, que estava paralisado pelo medo. Com agilidade, ele pegou o garoto nos braços e saltou da carroça, enquanto dois cavaleiros de trás tentavam interceptá-los.
Simão desviou com precisão da espada afiada de um dos cavaleiros, enquanto o segundo foi bloqueado por Paulo, que brandia sua lâmina, travando o avanço inimigo. A tensão no ar era quase sufocante, cada segundo contava para sua fuga.
Paulo, com movimentos rápidos e precisos, conseguiu derrubar um dos cavaleiros, mas antes de poder respirar ou se mover, já estava bloqueando o ataque de outro. Simão, segurando Cauã firme em seus braços, corria em direção à floresta. Cada passo era uma luta entre a urgência de escapar e a visão de Paulo ficando para trás.
— EU JÁ ENCONTRO VOCÊS! — gritou Paulo, sua voz determinada, embora a situação fosse crítica.
Um estrondo ecoou pela estrada, vindo da frente da carroça. Cauã, mesmo nos braços de Simão, pôde ouvir o grito de Kartein que rasgava o ar. Quando olhou para trás, viu o nobre empunhando sua espada mágica, cortando a parede de pedra com facilidade.
— VÃO ATRÁS DELES! — rugiu Kartein para os cavaleiros, apontando para a floresta.
As árvores e folhas começavam a obscurecer a visão de Cauã, mas antes que ele perdesse completamente a cena, o horror tomou conta de seus olhos. Ele viu Kartein, em um movimento impiedoso, erguer sua espada e, com um golpe preciso, cortar a cabeça de Paulo. O corpo de Paulo tombou rapidamente ao chão, como uma marionete sem vida. O som seco da queda ficou ecoando na mente de Cauã, que, em choque, permaneceu imóvel nos braços de Simão.
O mundo ao redor parecia parar naquele instante. O tempo congelou para Cauã, a visão da morte de Paulo gravada em seus olhos.
Ele tentou falar, mas as palavras pareciam sufocar em sua garganta. A respiração descompassada só deixava sair sons entrecortados:
— P-Paulo… ele… — balbuciou, com a voz fraca.
Simão, que corria pela floresta sem olhar para trás, apertou ainda mais o garoto em seus braços, o rosto rígido e os olhos fixos no caminho à frente. Ele sabia. Não era preciso ouvir as palavras completas de Cauã para entender o que havia acontecido. Um tremor percorreu seus músculos, mas ele manteve o ritmo firme.
— Fique calmo, garoto — disse ele, tentando controlar a própria voz enquanto os galhos das árvores passavam como borrões ao redor. — Temos que seguir. Só precisamos continuar. Está tudo bem.
Mas os olhos de Simão, por mais firmes que tentassem parecer, revelavam o medo profundo e a dor da perda. Ele sabia que não poderia parar, não agora.
Enquanto corria pela floresta, Simão sentia um aperto no peito a cada passo. Os galhos chicoteavam seu rosto e deixava pequenos aranhões. De repente, algumas vinha se moveram magicamente fechando a passagem a frente, como se a floresta se fechasse a frente deles.
Simão parou e respirando com dificuldade olhou ao retor tentando encontrar um caminho alternativo, porém, mais raízes fechavas e cobriam tudo, como se criasse uma prisão natural.
— Droga… — murmurou, seus olhos faiscando em desespero, enquanto olhava para Cauã.
Ele sabia o que precisava fazer, mesmo que o coração doesse ao tomar a decisão. Não havia mais tempo.
— Escuta, Cauã — disse Simão, abaixando-se e segurando os ombros do garoto com firmeza. — Vou te esconder. Não importa o que você escute, fique quieto, entendeu? Eu vou distraí-los. Use a poção escura que te dei caso sinta que irá ser achado.
Ele rapidamente empurrou Cauã para dentro de um arbusto com folhas e raízes que o facilitaria de ficar escondido.
Cauã, incapaz de processar a situação caótica ao redor, apenas acenou com a cabeça enquanto observava seu pai se afastar rapidamente. Seus olhos ainda focados em Simão, mas o som das armaduras tilintando e o barulho furioso de Kartein e seus cavaleiros invadiram sua atenção, obrigando-o a olhar em outra direção.
— “ONDE VOCÊ ESTÁ, NOBRE CAÍDO? VOCÊS NÃO VÃO ESCAPAR!” — rugiu Kartein, sua espada cortando um galho à sua frente, sua voz reverberando pelo caos da floresta.
Cauã, tomado por medo, instintivamente levou a mão à boca, como se pudesse suprimir até mesmo o som de sua respiração, tentando desesperadamente se tornar invisível. Quando seus olhos procuraram seu pai de novo, Simão já havia desaparecido nas sombras.
Um dos cavaleiros, um mago, ergueu a mão com um gesto calculado e começou a recitar um encanto. A luz espectral que emanava de seus dedos denunciava a natureza da magia — um feitiço de localização por som, perfeito para rastrear os fugitivos. Ele era o mesmo que havia fechado a floresta, aprisionando-os no labirinto de árvores e sombras.
De repente, a voz de Simão cortou o ar, clara e firme, mas ecoando de forma surreal:
— “Thaur’mar yl’vei sonus.”
O efeito foi imediato e avassalador. O ambiente, antes cheio de ruídos, pareceu congelar. Cada folha que se mexia, cada respiração de animais ocultos, tudo foi envolvido por um silêncio absoluto. Era como se o próprio mundo tivesse perdido a capacidade de respirar. O ar parecia denso, abafado, como se todos estivessem submersos em um mar profundo e sem som.
Cauã olhou em volta, desorientado. O som de seu próprio coração, que momentos antes martelava em seus ouvidos, agora parecia um eco distante e irrelevante. A magia havia arrancado o som do mundo de forma brutal e definitiva.
Kartein, sem entender o que estava acontecendo, olhou ao redor, tentando localizar Simão. Mas ao se virar, seu olhar se fixou no cavaleiro mago. O homem, que momentos antes estava recitando seu feitiço, agora caía ao chão, sua garganta cortada em um golpe silencioso e fatal. Sua boca se abriu em um grito de agonia, mas nenhum som escapou. Apenas o vazio, enquanto ele se debatia em um silêncio fantasmagórico.
O horror do momento pesava no ar.
Kartein ainda procurava Simão,
Aproveitando do silencia criado pela sua magia, Simão se moveu com precisão entre as árvores e lançou uma adaga que aos olhos do cavaleiro era quase invisível, Simão se aproveitou da luz entre as folhas da arvore para diminuir o tempo de reação de seu inimigo. Assim que a adaga penetrou se rosto, com um rápido movimento, Simão finalizou o inimigo, ficando de frente à frente com Kartein.
Enquanto o corpo do segundo cavaleiro caía silenciosamente ao chão, o aristocrata fixou os olhos em Simão, transbordando desprezo e fúria. A magia ainda reverberava no ar, mas Kartein se mantinha firme, exalando uma presença imponente que desafiava a própria quietude.
Simão lançou-se em direção a Kartein, sua adaga pronta para um ataque furtivo. Mas o nobre, com reflexos ágeis, se virou e ergueu sua espada, bloqueando o ataque com um clangor de metal que ecoou mesmo no silêncio. O choque reverberou por suas mãos, e Simão se sentiu vacilar por um momento.
A batalha se desenrolava de maneira brutal, com Simão atacando com toda a força que ainda lhe restava. No entanto, cada golpe que desferia parecia ser facilmente desviado por Kartein, que se movia com uma graça quase sobrenatural. O nobre sorriu de forma sarcástica, brincando com a lâmina de Simão como um gato com uma presa desamparada. Os cortes e arranhões começavam a se acumular no corpo de Simão, cada movimento se tornando mais pesado e doloroso.
Enquanto Kartein contra-atacava, suas lâminas dançavam no ar com uma elegância cruel, deixando Simão em uma posição de desespero. Ele desviava e bloqueava como podia, mas a cada ataque, a confiança do aristocrata crescia. Kartein parecia quase se divertir com a luta, como se estivesse a brincar com um inseto preso entre seus dedos, um sorriso debochado em seus lábios.
Simão, cada vez mais ofegante e com a visão turva, percebeu que estava à beira do abismo. Em um último esforço, ele recuou, tentando avaliar a situação. Mas Kartein não dava espaço para que ele respirasse. Com um movimento rápido, o nobre avançou, empurrando Simão contra uma árvore, a adaga quase tocando sua garganta.
Quando tudo parecia perdido, Simão lembrou-se do frasco vermelho que carregava na bolsa — uma poção feita com o sangue do Gulon. Esta rara elixir prometia ao portador um aumento impressionante de força e agilidade, imbuindo seu corpo com características do animal. No entanto, essa transformação tinha um preço alto: a vida de quem a consumisse seria drasticamente encurtada. A decisão era arriscada, mas Simão sabia que não tinha escolha.
— Não! — gritou Kartein, percebendo o que Simão estava prestes a fazer. Um lampejo de raiva cruzou seu rosto enquanto ele estendia a mão na tentativa de impedir que Simão consumisse a poção.
Simão não hesitou. Com um movimento rápido, levou o frasco aos lábios e bebeu o conteúdo, sentindo o líquido ardente escorregar por sua garganta. A magia da poção pulsou em seu corpo, enviando uma onda de energia através de seus músculos, dando-lhe uma sensação de poder renovado. O mundo ao seu redor pareceu ganhar nitidez enquanto uma força desconhecida despertava dentro dele.
Kartein tomou distância, observando enquanto o corpo de Simão se transformava, escurecendo e adquirindo um semblante mais animal do que humano. — Que droga! Quão tolo você é! Protegendo um Crown! Você jogou fora sua humanidade para defender uma criança que nem deveria estar viva! — suas palavras cortavam o ar, cheias de desprezo.
Enquanto falava, Simão se curvava ao chão, apoiando as mãos como um animal quadrúpede. Ele atacou Kartein com uma ferocidade renovada, seus golpes mais rápidos e potentes, mas previsíveis. Kartein, com um sorriso cínico, retrucou: — Lutar com uma simples fera não me diverte. Vou acabar com seu sofrimento. — A espada do nobre começou a brilhar intensamente, emanando uma luz ameaçadora, a mesma que cortara a parede de pedra criada por Paulo. O silêncio, já opressivo, pareceu se aprofundar quando a lâmina atravessou o corpo de Simão.
Cauã, observando de longe, sentiu seu desespero crescer, a visão turvando-se enquanto o pânico se apoderava dele. O último olhar de Simão, um misto de dor e determinação, cravou-se em sua memória. A magia que silenciava o ambiente começou a se dissipar, revelando a verdade horrenda: o invocador já estava morto.
Kartein, ainda absorto na cena, ouviu um leve estalo de galho à sua frente, proveniente de um arbusto próximo. O som era um lembrete cruel de que ainda lhe faltava uma presa.
Kartein se moveu com determinação em direção ao arbusto, a mente ardendo de frustração. Sabia que havia algo ali, uma pista que poderia levar ao garoto. À medida que se aproximava, seus olhos penetrantes examinaram cada canto, cada sombra. O silêncio que envolvia a floresta tornava o ambiente ainda mais opressivo, como se estivesse prestes a desabar.
Quando alcançou o arbusto, ele cortou os galhos com um movimento rápido da espada. Porém, em vez de encontrar Cauã, deparou-se com um frasco vazio caindo ao chão. O líquido negro dentro dele ainda reluzia, embora em quantidades mínimas, resquícios da poção que havia sido consumida. A mente de Kartein, afiada e perspicaz, reconheceu imediatamente o que tinha em mãos: uma poção de Nymira, que tornava o portador invisível aos olhos.
— Maldito garoto! — rosnou, sentindo a raiva subir como lava. Ele olhou ao redor, a compreensão batendo como um tambor em sua mente. — Ele fugiu!
O desespero e a raiva pulsaram em suas veias enquanto a verdade se instalava: o filho de Simão havia desaparecido na floresta, protegido pela magia. Kartein levantou a cabeça, a fúria se transformando em uma determinação cruel.
— Onde quer que você esteja, garoto, saiba que a Casa Raven sempre encontra o que procura! — gritou, sua voz ecoando como um trovão entre as árvores. — Não importa quão longe você fuja, nós te acharemos!
Com isso, Kartein se afastou do arbusto, o frasco agora um símbolo de seu fracasso temporário. Mas a caçada apenas começava. Ele estava decidido a não deixar escapar mais uma oportunidade. O garoto poderia ter fugido, porém, um dia ele iria acha-lo.
Cauã disparou pela floresta, os pés batendo contra o solo coberto de folhas secas, cada passo pulsando com a adrenalina que corria em suas veias. A cena horrenda de seu pai sendo perfurado pela espada de Kartein se repetia em sua mente, um pesadelo que não parecia ter fim. Ele não conseguia processar o que havia acontecido, apenas sabia que precisava escapar, que não poderia ser encontrado.
As árvores pareciam se fechar à sua volta, suas sombras se transformando em mãos gélidas que tentavam puxá-lo de volta. O ar estava carregado de um silêncio opressivo, apenas quebrado pelo som de seu próprio coração, que batia descontrolado como se quisesse escapar de seu peito. Ele não olhou para trás, a imagem do corpo de Simão ainda fresca em sua memória, um peso esmagador que o fazia correr ainda mais rápido.
Cada respiração se tornava um desafio, seu corpo clamando por ar enquanto ele se esforçava para manter o ritmo. Os galhos e arbustos arranhavam sua pele, mas ele não sentia dor. O medo era mais forte, a urgência de viver ofuscando qualquer outra sensação. Ele se lançou entre as árvores, desviando de troncos e raízes que ameaçavam fazê-lo tropeçar.
Mas a exaustão não tardou a se fazer sentir. A energia que antes o impulsionava começou a se esvair, seu corpo exigindo um descanso que não poderia se dar ao luxo. Cada passo se tornava mais pesado, e seus músculos, antes ágeis, estavam se transformando em chumbo. Ele tentou se concentrar, a determinação ainda ardendo dentro dele, mas a realidade começou a se misturar com a escuridão.
Então, sem aviso, tudo se desfez. Cauã caiu no chão, a floresta ao seu redor girando em uma névoa indistinta. O último pensamento que cruzou sua mente foi um grito silencioso por Simão, mas logo se perdeu na escuridão que o envolvia. Ele desmaiou, sua consciência sendo tragada por um abismo profundo, a floresta agora apenas um sussurro distante.
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Olá, pessoal! Muito obrigado por ler o capítulo! 😄
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