Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 444
Capítulo 444
A Falsa (9)
Era possível ser reduzida a esse estado apenas pela intenção assassina dela?
Melkith esfregou os antebraços. Ela podia sentir arrepios. Apesar do medo de recordar o momento, quando pensava nisso novamente, Melkith sentia como se fosse mais do que uma simples intenção assassina.
Quando seus olhos se encontraram, algo… algo aconteceu. Como ela poderia explicar isso? Não era uma sensação totalmente desconhecida. Ela já havia experimentado isso uma vez antes.
— Isso mesmo — pensou Melkith.
Isso voltou à sua mente enquanto ela ainda tentava acalmar seu coração acelerado.
Anos atrás, quando ela entrou em Akron pela primeira vez, subiu ao último andar, o Salão de Sienna, e viu a Feitiçaria e o Buraco Eterno pela primeira vez, Melkith se sentiu completamente sobrecarregada. Ela sentiu como se tivesse testemunhado algo transcendente, algo não destinado aos seus olhos, algo além de sua compreensão e capacidade atual.
Ela sentiu algo semelhante naquele breve momento em que encontrou os olhos de Sienna. Não foi apenas a intenção assassina que sobrecarregou Melkith. Em vez disso, por um instante, Melkith vislumbrou a essência da maga chamada Sienna Merdein. Isso foi o que a fez desabar no chão.
— Magia? — ponderou Melkith.
Era algum tipo de magia? Ela não podia ter certeza. Afinal, foi apenas por um breve momento.
O que estava claro, no entanto, era que esta Arquimaga, a Sábia Sienna, havia transcendido além das expectativas mais selvagens de Melkith. Enquanto ela rolava nas areias, a Sábia Sienna deve ter perseguido algo para alcançar tais alturas.
— Ainda assim, eu progredi desde então — Melkith tranquilizou-se.
Ela sentia um senso de orgulho em si mesma, junto com admiração por Sienna. Ela desmaiou quando veio a Akron pela primeira vez e viu a Feitiçaria. Mas desta vez, conseguiu ficar consciente. Embora suas pernas tenham cedido, ela evitou um constrangimento maior.
— Ahn… — Melkith levantou cautelosamente a cabeça e olhou para frente.
Este era o último andar de Akron, o Salão de Sienna. Era um lugar repleto de retratos de Sienna e Akasha, bem como de seus camaradas de trezentos anos atrás. Agora, várias coisas haviam mudado desde então. Melkith observou Sienna, que estava sentada no assento principal com o queixo apoiado na mão.
— Irmã… você está zangada? — perguntou Melkith.
Não houve resposta. Sienna continuava olhando para frente, sem nem mesmo lançar um olhar para Melkith. Melkith sentiu seu coração acelerar de ansiedade enquanto falava novamente.
— Irmã, foi realmente só uma brincadeira! Você acha que eu faria isso a sério com você? Foi só… só… isso mesmo! Eu queria mostrar a você a última tendência de pegadinhas, já que não nos vemos há muito tempo! Sim! Você não saberia estando em Aroth, mas em Nahama, esse tipo de pegadinha está na moda. Todo mundo, de crianças a idosos, se diverte com isso.
Era uma explicação desesperada e obviamente frágil, mas Melkith se agarrava a ela fervorosamente.
No entanto, ainda não houve resposta.
Lovellian continuava lançando olhares para Melkith de seu assento perto de Sienna, mas Melkith estava muito ocupada para notar seus gestos.
— Eu sofri tanto naquele deserto escaldante por você e Eugene! Sim, sim, eu sei que estava errada. Não vou mais fazer essas pegadinhas com você. Então, por favor, irmã, deixe de estar zangada. Relaxe seu rosto! Por favor, responda para mim — implorou Melkith.
— E quem são eles? — Melkith percebeu alguns rostos desconhecidos em meio a sua súplica desesperada.
Entre eles estavam Herington Carage, o mago chefe da corte de Kiehl, e Rynein Boers, o eremita. Embora ela nunca tivesse conhecido esses dois novos Arquimagos, a presença deles naqueles assentos claramente os marcava como tal.
— Estou ajoelhada no chão enquanto esses novatos estão confortavelmente sentados em cadeiras? — pensou Melkith indignada.
Ela não podia acreditar na audácia. Como podiam permanecer sentados enquanto ela estava no chão? O mínimo que poderiam fazer era ficar de pé. Apesar de fervilhar por dentro, Melkith manteve um sorriso servil.
— Irmã… — ela chamou mais uma vez.
— Ahn! — Incapaz de suportar mais, Lovellian limpou a garganta ruidosamente. Só então Melkith virou a cabeça para olhar em sua direção.
Ele encontrou o olhar de Melkith e imediatamente colocou o dedo indicador nos lábios. Mesmo em seu estado distraído, Melkith reconheceu esse gesto óbvio. Ela parou de tagarelar e apenas fez beicinho.
— Bastante impressionante — Sienna finalmente falou após um longo período de silêncio. Seus lábios se curvaram em um sorriso. Ela estendeu a mão que estava apoiada sob o queixo. — Sua força mental é excepcionalmente forte? Ou é um privilégio do poder sombrio de Incarceration?
Balzac não podia responder em sua forma amarrada no ar. Ele conseguiu permanecer consciente, mas isso foi o melhor que pôde fazer. Mesmo relaxar minimamente teria feito ele perder a sanidade.
O olhar fixo nele era tão feroz e poderoso. Pode ser uma comparação estranha, mas Balzac sentiu um poder semelhante ao Demoneye nos olhos verdes de Sienna. No entanto, humanos não podiam possuir Demoneyes; eles eram características manifestadas apenas em alguns demônios de alto escalão.
Portanto, ele tinha certeza de que esse olhar não era um Demoneye, mas magia. Mesmo assim, entender isso não era fácil.
— A magia poderia criar artificialmente tal charme demoníaco? — Os olhos de Sienna extraíam muitas emoções de Balzac, incluindo admiração, admiração e um senso de encantamento. Mas todas culminavam em uma coisa.
Submissão.
…… Balzac repensou sua posição. Involuntariamente, ele havia destruído sua própria estrutura de magia.
— Era possível tal coisa com magia? Essa pergunta em si estava errada. Nada era impossível em magia. Enquanto Balzac mesmo poderia não ser capaz de perseguir ou alcançar tal reino, ela era a Sábia Sienna. Ela era a maga que todos os magos respeitavam, a maga das magas.
— Ha ha… — Balzac riu involuntariamente. Ele estava preocupado que ela pudesse interpretar essa risada como rude ou insultante, mas agora, tendo a liberdade de falar, ele não podia deixar de rir.
Como ele poderia não rir ao ver a figura que admirava desde a infância com seus próprios olhos?
— Minha força mental não é particularmente forte; é mais provável que seja devido ao poder de Sua Majestade, o Rei Demônio de Incarceration — respondeu Balzac.
— Presunçoso. — As sobrancelhas de Sienna se contraíram. — Chamar o Rei Demônio de Incarceration de Sua Majestade na minha frente, de todas as pessoas.
— Eu entendo que é desrespeitoso, mas não posso evitar — retrucou Balzac.
— Ele não puniria seus subordinados por não usarem honoríficos, não é? — contrapôs Sienna.
— Também acredito, Lady Sienna, que você entenderia a necessidade de uma pessoa humilde ser cautelosa em suas palavras — disse Balzac.
Todos ficaram surpresos com a resposta de Balzac. Isso era especialmente verdadeiro para Hiridus, o Mestre da Torre Azul. Ele conhecia Balzac desde a juventude e se sentia inquieto.
Ele respeitava e admirava Sienna, mas em uma nota separada… às vezes, Sienna poderia ser incrivelmente emocional. E se Sienna realmente se sentisse ofendida pelas palavras dele e matasse Balzac? Quem poderia impedir isso?
Além disso, não estaria errado se Sienna matasse Balzac. Ele era um mago negro contratado com o Rei Demônio de Incarceration. Como tal, ele era um inimigo inevitável e nunca poderia ser um aliado.
— Certo — Sienna sorriu enquanto movia o dedo. Ela desenhou um círculo em direção a Balzac com o dedo indicador. — Posso entender completamente. Balzac Ludbeth, Mestre da Torre Negra. Sabe, eu simplesmente não posso
nutrir bons sentimentos por magos negros, especialmente aqueles contratados com o Rei Demônio.
— Eu entendo — respondeu ele.
— Eu acredito que tenho o direito de matá-lo. Você pode achar que é injusto, mas isso não é da minha conta — disse Sienna.
— Eu entendo — Balzac respondeu.
— Mas eu não vou matá-lo — afirmou Sienna.
Swoosh!
A magia que prendia Balzac desapareceu. Sienna observou Balzac cair no chão antes de continuar: — Eu não vou matá-lo. Eu ouvi sobre você várias vezes. Do Mestre da Torre Vermelha, do Mestre da Torre Azul e, claro, do meu orgulhoso e amado discípulo, Eugene. Balzac Ludbeth, ouvi dizer que você tratou bem meu discípulo.
— É uma questão difícil de responder eu mesmo — respondeu Balzac.
— Eu ouvi que você teve um papel significativo na Floresta de Samar. Sem você, as coisas poderiam ter ficado muito complicadas — continuou Sienna.
— Eu simplesmente fiz o que tinha que ser feito — disse Balzac.
— Essa resposta parece muito clichê — interveio Sienna.
Balzac sorriu sem jeito às palavras dela. Quando ele não continuou, Sienna riu com os braços cruzados, dizendo: — Eu gosto da sua aspiração.
Ao mencionar “aspiração”, a expressão de Balzac endureceu ligeiramente. Incerto se sua próxima expressão era um sorriso ou uma lágrima, até Balzac não podia dizer. Talvez fosse ambos.
— Você quer se tornar uma lenda? O maior mago do mundo. Um mago como eu, que será lembrado na história da magia por centenas de anos? — perguntou Sienna.
— …Sim — respondeu Balzac.
— Ouvi dizer que você foi uma vez um mago promissor na Torre Azul, até considerado para a posição de próximo mestre da torre. Ouvi sobre por que você fez um contrato com o Rei Demônio e se tornou um mago negro — continuou Sienna.
— Porque eu não sou você, Lady Sienna — Balzac se recompôs antes de responder.
A Sábia Sienna era amada pela magia. Ela era uma maga que podia ameaçar os Reis Demônios. Nenhum mago como ela apareceu desde então.
Balzac não era Sienna. Uma vez, ele pensou que era um gênio, amado pela magia, capaz de se tornar uma lenda. Mas a realidade traiu suas expectativas. Foi por isso que ele se tornou um mago negro para se tornar um grande mago, para deixar seu nome nos anais da história da magia.
— Eu não acho que minha escolha foi errada. Tive ideais que não podia alcançar com meu potencial. Para trilhar esse caminho, tive que assinar um contrato com o Rei Demônio de Incarceration — explicou Balzac.
A maioria dos magos sonhava em se tornar os maiores magos na juventude. Mas à medida que envelheciam e enfrentavam a realidade, os sonhos mudavam. Eles comprometiam ou desistiam. Balzac escolheu o compromisso em vez da rendição.
— Eu tenho algumas perguntas para você — disse Sienna. Seu rosto perdeu o sorriso enquanto seus olhos se fixavam calmamente em Balzac. — Ouvi dizer que sua aspiração é pura e sincera. E sua obsessão. Você quer permanecer puramente humano e se tornar uma lenda? — perguntou ela.
— Sim. Porque sou um humano — respondeu Balzac.
— Você pode jurar isso? — Sienna se levantou. Ela se aproximou lentamente de Balzac, continuando: — Eu não vou forçá-lo. Mesmo se você não jurar, eu não vou matá-lo agora. Como você tem um contrato com o Rei Demônio de Incarceration, haverá um momento em que terei que matá-lo.
— …Eu entendo — respondeu Balzac após um momento.
— Se você não puder jurar, então vou considerá-lo… apenas um mago negro. Isso não vai me incomodar muito. Mas eu preferiria que você desaparecesse da minha vista agora — disse Sienna.
— O que acontece se eu jurar? — perguntou Balzac.
— Acho sua aspiração esplêndida — disse Sienna. — Se você realmente a estiver perseguindo e provar sua sinceridade com um juramento, então eu… vou considerá-lo não apenas um mago negro, mas um mago.
— Eu vou jurar — Balzac não hesitou. Ele colocou a mão no peito, infundindo suas palavras com magia e mana. — Eu nunca vou abandonar minha humanidade.
Só depois de ouvir seu juramento Sienna finalmente deu um sorriso astuto. Ela parou em frente a Balzac. Ele ainda estava sentado no chão.
— Eu vou superar a humanidade — declarou Sienna.
Balzac sentiu a mesma transcendência nos olhos de Sienna como antes. A luz girando em seus olhos criou estrelas. Seus olhos, girando com luz, formaram galáxias.
Balzac olhou para Sienna com uma expressão atônita. Ela não estava brincando. Ele estremeceu e assentiu. — …Sim.
— Eu não vou envolver você na pesquisa. O Rei Demônio do Encarceramento pode usar você para espionar — continuou Sienna.
— Embora eu não ache que ele faria tal coisa… mas sim, eu entendo — respondeu Balzac.
Ele estava desapontado, mas Balzac não pediu mais. Sua aspiração foi reconhecida. Ele ouviu as palavras de que não era apenas um mago negro, mas um mago. Para Balzac, essas palavras eram tão preciosas quanto a salvação.
— …Eu pensei que poderia ser útil na questão de Nahama, Lady Sienna — disse Balzac.
— Recebi as memórias extraídas de Harpeuron. Não foram de muita ajuda, contudo — respondeu Sienna.
— Assim parece — disse Balzac antes de olhar para fora, para os familiares vampiros. — Achei que tinha identificado todos os clãs de vampiros ativos em Aroth… parece que estava enganado — admitiu ele.
— Provavelmente estava — Sienna riu, também olhando para fora.
O vampiro que observava a reunião em Akron e espionava Sienna pertencia ao Clã Odoth. Mas em algum momento, o dono do olhar mudou.
Agir ou ignorar? Deveria ela investigar ou deixá-los intocados? Mas antes que pudesse tomar uma decisão, os vampiros ousaram se aproximar primeiro.
Traição.
Embora desprezível, não havia necessidade de recusar quando inimigos se traíam e ofereciam informações. Graças a isso, Sienna sabia o que estava acontecendo nas profundezas de Nahama. Ela sabia quais demônios haviam cruzado, assim como o que estava sendo preparado.
— Irmã… — Melkith implorou lastimosamente, vendo Sienna rir — Se você está reconhecendo um mago negro, não pode fazer o mesmo por mim?
— Não me chame de irmã, Senhorita Melkith — Sienna respondeu friamente.
Melkith rastejou de joelhos até os pés de Sienna, agarrando-se às suas pernas. — Irmã! Como você pode fazer isso comigo? Irmã, por favor, eu trabalhei tanto por você!
— Vamos sair lá fora? — perguntou Sienna.
— Irmã! Eu já disse que era tudo uma brincadeira! Por que eu sairia com você? — Melkith lamentou enquanto sacudia a perna de Sienna.
Sienna considerou afastá-la com um chute, mas suspirou. Afinal, Melkith havia lutado no deserto por quase um ano.
— Se você aprontar mais uma vez… — Sienna avisou.
— Nunca mais! Irmã, irmã, mas o que foi aquilo antes? Aquilo que me fez cair! Não importa o quanto eu pense, parecia magia. É a sua nova Assinatura? — perguntou Melkith.
— É um segredo — foi a resposta de Sienna.
Ainda estava incompleto, então Sienna não estava pronta para se gabar disso ainda.
— Como eu imaginei…! Nunca imaginei em meus sonhos mais loucos que tal magia existisse — disse Balzac.
— Certo! Era como se a própria irmã se tornasse magia. Foi essa a sensação — Melkith acrescentou.
Sienna não respondeu, mas Balzac e Melkith continuaram especulando sobre sua Assinatura. Ouvindo suas suposições, os lábios de Sienna se curvaram, seus ombros se ergueram e seu peito se encheu de orgulho.