Vilão da Minha Própria Novel - Capítulo 02
Capítulo 02 – A Jornada Começa(2)
09:30 da manhã.
Ao adentrar, o som da porta ecoou pelo espaço, rompendo o silêncio expectante que me envolvia.
O interior da sala era banhado pela luz suave da manhã, que se infiltrava pelas janelas amplas, criando um mosaico de sombras dançantes nas paredes de concreto polido.
Uma onda de olhares curiosos caiu para mim, enchendo o ambiente com uma tensão palpável.
Eu podia sentir o peso desses olhares, cada um carregando sua própria história, suas expectativas e julgamentos.
‘Por que todos estão olhando para mim?’
A pergunta ecoou em minha mente, acompanhada de uma ansiedade sutil que apertava meu peito.
Na verdade, eu sabia o motivo dos olhares, mas optei por ignorá-lo.
A grandiosidade da sala superava minhas expectativas, refletindo a imponência da academia que eu havia apenas imaginado ao escrever minha novel.
A sala era ainda maior do que eu imaginava, mas aceitei isso com facilidade, já estávamos falando da Spectra afinal.
Engoli em seco, dei um passo hesitante para dentro da sala, sentindo-me como se estivesse entrando em território desconhecido.
Meus olhos rapidamente percorreram a sala, encontrando rostos que eu conhecia bem, mas apenas como fruto da minha imaginação.
Eles eram inconfundíveis.
Arthur e Kai, tão vivos e reais quanto eu jamais poderia ter imaginado.
Kai com sua postura rebelde parecia vibrar com uma energia indomável, uma personificação perfeita da descrição que eu havia dado a ele em minha novel.
Ao me aproximar discretamente pude ouvir o fragmento de uma conversa entre os dois.
Kai estava tentando persuadir Arthur a aceitar um duelo após saírem do auditório, e sua voz estava carregada de desafio e expectativa.
― Vamos Arthur. Será uma excelente maneira de medir nossas habilidades depois desse tempo todo.
Kai insistia com um brilho provocador nos olhos.
Arthur, por sua vez, respondia com um sorriso calmo; a paciência e a compostura em sua voz eram palpáveis.
― Há tempo e lugar para tudo, Kai. Hoje não parece ser um bom dia para um
duelo.
A sabedoria em suas palavras refletia sua personalidade.
Na minha novel, Kai considerava Arthur seu rival, apesar de Arthur não ligar muito para isso.
Me sentei em um dos assentos e, assim como os outros, eu estava esperando o professor chegar.
Como hoje era o primeiro dia na Spectra, não aconteceria nada grandioso; o professor iria apenas nos dizer como as coisas iriam funcionar daqui para frente.
“Sigh!” ― Suspirei enquanto refletia sobre os acontecimentos recentes.
Eu estava realmente bastante perdido; tudo que tinha acontecido desde a manhã até o caminho à Spectra parecia muito real para ser apenas um sonho ou algo do tipo.
Já estava na hora de eu aceitar que isso era mais do que real.
‘Como eu vim parar aqui?’
Eu não fazia ideia.
De repente, me lembrei de algo.
Lembrei que, na noite anterior, eu vi um comentário de um usuário que estava revoltado com os acontecimentos da novel e com o sofrimento de Evan.
‘Autor, seu maldito. Se deuses existem, eu desejo que você sofra tanto quanto o Evan!’
Ele havia dito algo assim. Isso não poderia ser real.
‘Será que realmente algum deus aceitou os desejos desse usuário e me trouxe para o mundo de minha novel, querendo que eu vivesse a vida de Evan? Isso é loucura.’
Conforme eu afundava em meus pensamentos, senti um olhar cair sobre mim.
Olhei para o lado e vi um dos personagens principais de minha novel.
Era Derek.
Ele estava olhando para mim com uma carranca.
Eu não tinha uma certeza clara do motivo, já que os primeiros capítulos não eram focados em Evan; porém, como autor da minha novel, eu poderia tentar adivinhar o porquê.
Derek era arrogante e preconceituoso, vindo de uma família rica e privilegiada.
Ele sempre teve uma atitude de superioridade em relação aos outros alunos, especialmente aqueles que não têm o mesmo status social que ele.
Na minha novel, eu escrevi que Derek sabia que Evan era de origem humilde e duvidava de suas habilidades.
Derek não era alguém que se contentava em apenas observar de longe.
Vindo de uma das famílias mais ricas e influentes vinculadas à Spectra, ele tinha acesso a recursos que a maioria dos alunos nem sequer sonhava.
Foi assim que, antes mesmo do início do semestre, Derek utilizou suas conexões para obter informações sobre os novos alunos de sua turma, especialmente aqueles que, como Evan, foram admitidos por meio de programas de bolsas ou tinham origens modestas.
Ele provavelmente achava que Evan não tinha motivos para estar em uma academia como a Spectra.
Vendo aquilo, desviei o olhar e só o ignorei. Arrumar problemas com ele no primeiro dia podia se tornar algo chato.
― Pessoal. Peço que prestem atenção em mim agora.
Sem que eu notasse, o instrutor estava dentro da sala, no pódio à nossa frente. Obviamente, ele tinha usado suas habilidades para esgueirar-se até a sala.
― Sejam todos bem-vindos à academia de heróis Spectra.
Sebastian, o instrutor de alto nível e herói experiente, ocupou o pódio com uma presença imponente; seus olhos escaneavam a sala com seriedade antes de começar sua apresentação.
― Eu me chamo Sebastian
Começou ele, com sua voz ressoando com autoridade.
― Aqui, nós buscamos cultivar e desenvolver o potencial de cada um de vocês, independentemente de suas origens ou circunstâncias.
― Como devem saber, alguns de vocês estão aqui como bolsistas, enquanto outros têm o privilégio de financiar sua própria educação. No entanto, é importante lembrar que todos são iguais dentro da Spectra.
Sebastian pausou por um momento, permitindo que suas palavras fossem absorvidas pelos alunos antes de prosseguir.
― Na Spectra, valorizamos não apenas o treinamento em campo de batalha, mas também a educação acadêmica. Vocês encontrarão dormitórios confortáveis e bem-equipados disponíveis para aqueles que optarem por residir aqui. Embora não seja obrigatório, é altamente recomendado para a conveniência e integração na vida acadêmica.
Na minha novel, Evan não ficou nos dormitórios da Spectra pelo fato de ter que cuidar de seus dois irmãos.
Mesmo que fosse a melhor escolha, seria impossível para ele ficar na Spectra e deixar Noah e Emma sozinhos. É claro que eu deveria fazer a mesma escolha que ele.
― Nossa academia opera em um sistema de aulas obrigatórias e opcionais. As aulas obrigatórias são aquelas que todos os alunos devem frequentar, abordando temas fundamentais para o desenvolvimento como heróis. Quanto às aulas opcionais, os alunos têm a liberdade de escolher conforme seus interesses e objetivos individuais.
Eu não tinha motivos para frequentar as aulas opcionais por enquanto.
― No entanto, lembrem-se de que o sucesso nesta academia não se resume apenas ao número de aulas que vocês assistem. É sobre a dedicação e o compromisso que demonstram em cada aspecto de sua jornada.
Os olhos de Sebastian percorreram a sala, captando a atenção de todos antes de continuar.
― Eu também gostaria de anunciar que, em três dias, realizaremos um teste especial em equipe.
― Será uma valiosa oportunidade para todos demonstrarem suas habilidades em um cenário prático, enfatizando a importância do trabalho em equipe e da estratégia. Mais detalhes serão fornecidos em breve, mas preparem-se para enfrentar desafios que exigirão o melhor de suas habilidades físicas e mágicas.
Disse Sebastian, instigando uma onda de murmúrios excitados entre os alunos.
Três dias, ele havia dito.
Eu tinha que usar esse tempo para me organizar e entender melhor os poderes de Evan.
‘Eu estou ferrado.’
― Por fim, cada um de vocês terá a oportunidade de progredir na Spectra através de um sistema de pontos. Seus esforços e desempenho em treinamentos, missões e atividades extracurriculares determinarão seu rank dentro da academia. Então, não se esqueçam de se esforçar no teste que irá acontecer.
Eu me lembrava de ter adicionado um sistema de ranking. Dependendo do seu rank na academia, você poderia receber quartos melhores, equipamentos e até artefatos.
Os artefatos não eram de alto nível; porém, para alguém que não tinha dinheiro nem para escolher o lugar onde iria morrer, resolvi me atentar a isso.
― Lembrem-se, o caminho para se tornar um herói não é apenas sobre habilidades individuais, mas também sobre trabalho em equipe, ética e perseverança. Estou ansioso para testemunhar o crescimento de cada um de vocês durante sua jornada aqui na Spectra…
Com isso, o professor continuou com alguns discursos motivacionais.
“…”
― Por fim, como nem todos vocês serão heróis que dependem completamente de poder mágico, hoje vocês terão a oportunidade de escolher algumas armas que chamem sua atenção.
Isso havia me interessado bastante.
Eu não tinha me importado com isso anteriormente por estar bastante assustado e confuso com todos os acontecimentos.
Mas eu claramente sentia uma energia estranha percorrendo meu corpo.
Isso com certeza era poder mágico. Como estávamos em 2031 e era o primeiro dia na academia, Evan com certeza já tinha conseguido seus poderes.
Na minha novel, Evan não tinha nada de especial até encontrar uma dungeon escondida.
Como a dungeon não era difícil, ele não teve dificuldades em finalizá-la.
Dentro dela, ele encontrou um pergaminho que o permitia ter uma audiência com um demônio. Qualquer um que estivesse bem da cabeça se recusaria a aceitar isso.
Mas como Evan estava desesperado, querendo poder para ficar mais forte e cuidar de seus irmãos, ele viu isso como uma oportunidade.
Ele fez um trato com um demônio em troca de poder.
Evan ganhou a capacidade de manipular as sombras como bem entendesse. E não apenas isso; depois que ele fez o acordo com o demônio, Evan recebeu a habilidade que lhe permite ter um sistema de habilidades a partir de uma janela que aparece em sua frente.
Era algo como uma janela de status padrão em novels e animes.
A diferença era que, ao invés de o protagonista receber esse poder, eu o coloquei em alguém que se tornaria um vilão.
Ao mesmo tempo que foi um tiro no pé, também foi uma bênção, já que esse poder agora era meu.
Enquanto eu pensava, o professor falou.
― Agora todos vocês podem se retirar e me seguir para a sala onde poderão escolher suas armas.
― E aqueles que não estão interessados, um instrutor estará esperando vocês do lado de fora desta sala para mostrar seus dormitórios e quartos.
No momento em que decidi pegar uma arma, uma hesitação me invadiu.
A dúvida sobre a eficácia das habilidades de Evan, tal como as descrevi em minha própria novel, pesava sobre mim.
Afinal, mesmo que suas habilidades fossem formidáveis no papel, replicá-las na realidade era outra história.
Com esse pensamento, juntei-me aos demais alunos na sala de seleção de armas, determinado a escolher uma espada como precaução.
A sala não tinha nada de especial; as armas, na verdade, eram bem comuns.
A Spectra era conhecida por não deixar os alunos usarem suas próprias armas dentro da academia.
Seria similar a um “pay to win” se fosse permitido, já que existia uma grande quantidade de armas raras pelo mundo.
Mas isso se aplicava somente dentro da Spectra; fora dela, a conversa era totalmente diferente.
===
Assim como vários alunos, eu fui até a sala de seleção de armas.
Sem perder tempo, fui diretamente para uma espada.
Minha mão mal havia tocado o cabo de uma das espadas expostas quando uma voz me surpreendeu, fazendo-me estremecer levemente.
― Você…
A voz carregava uma nota de surpresa e censura.
― Eu sei que você possui habilidades mágicas. Por que, então, optar por uma espada?
Virando-me, deparei-me com Derek, cuja presença imponente e olhar crítico eram intimidadores.
Eu não estava surpreso por ser ele, já que ele era do tipo que aproveitaria qualquer oportunidade para causar conflitos, especialmente no primeiro dia.
Minha resposta foi imediata, embora minha voz carregasse uma ponta de desafio.
― E desde quando minhas escolhas importam para você?
― Seu… O que você disse?
Ele estava segurando um arco, mas eu sabia que ele não seria louco de tentar me alvejar logo no primeiro dia.
A tensão entre nós escalava rapidamente.
Foi então que, de repente, Arthur apareceu.
Sua mão repousou sobre o ombro de Derek, um gesto de moderação.
― Vamos lá, não é necessário criar conflitos internos. Se ele está na Spectra, certamente provou suas habilidades. Então, tenho certeza de que ele sabe o que está fazendo. Além disso, o professor já esclareceu que temos liberdade para escolher nossas armas.
Arthur falava com uma serenidade e um sorriso que desarmavam qualquer hostilidade, características essas que o qualificavam como o verdadeiro protagonista de minha novel. Sua bondade e amabilidade eram tão palpáveis quanto sua beleza.
Confesso que sua aparência me surpreendeu ainda mais ao vê-lo ao vivo.
― Que seja. ― Disse Derek, claramente insatisfeito, mas sem argumentos contra a lógica de Arthur.
Ele então se afastou com um olhar de reprovação.
Arthur então se voltou para mim, seu sorriso gentil ainda emoldurando seu rosto.
― Não se preocupe com ele.
― Eu não irei.
Eu o respondi, depois peguei uma espada e me retirei.
E com a espada agora devidamente guardada em sua bainha em minhas mãos, afastei-me daquela cena, pensativo sobre os eventos que acabavam de se desenrolar, mas também um pouco mais aliviado pela intervenção pacífica de Arthur.
….
Eu estava me retirando da sala quando vi alguém que me surpreendeu bastante.
Ela se destacava não apenas por sua postura confiante, mas também por seu cabelo vermelho longo, um vislumbre de fogo em meio à luz suave da sala.
Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto, as mechas caindo de um jeito que parecia capturar perfeitamente sua personalidade rebelde e indomável.
Era difícil não a reconhecer, destacando-se com sua presença marcante.
Ela possuía uma beleza que não buscava aprovação, mas sim desafiava as expectativas.
Seus olhos, um verde-esmeralda penetrante, estavam focados em mim, analisando-me com uma intensidade que senti até o âmago.
Ela desviou o olhar quando nossos olhos se encontraram, com um gesto carregado de desinteresse.
Eu fiz o mesmo.
A incerteza sobre como interagir com ela e os outros personagens da minha própria novel, estavam pesando em minha cabeça.
Não sabia o que deveria fazer daqui para frente nesse mundo. Mas tinha certeza de que sobreviver era minha prioridade.
Ficar longe dos personagens principais, pelo menos no início, parecia ser a melhor escolha. Afinal, eu não queria estar envolvido nos acontecimentos principais da minha novel naquele momento.
Olhando para o relógio digital grande na parede, percebi que era 11:45.
Como todas as apresentações já haviam acabado.
Eu precisava sair da Spectra e voltar para casa, verificar como Noah e Emma estavam.
Arthur então se voltou para mim, seu sorriso gentil ainda emoldurando seu rosto.
― Não se preocupe com ele.
― Eu não irei.
Respondi, depois peguei uma espada e me retirei.
Com a espada agora devidamente guardada em sua bainha em minhas mãos, afastei-me daquela cena, pensativo sobre os eventos que acabavam de se desenrolar, mas também um pouco mais aliviado pela intervenção pacífica de Arthur.
…
Eu estava me retirando da sala quando vi alguém que me surpreendeu bastante.
Ela se destacava não apenas por sua postura confiante, mas também por seu cabelo vermelho longo, um vislumbre de fogo em meio à luz suave da sala.
Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto, as mechas caindo de um jeito que parecia capturar perfeitamente sua personalidade rebelde e indomável.
Era difícil não a reconhecer, destacando-se com sua presença marcante.
Ela possuía uma beleza que não buscava aprovação, mas sim desafiava as expectativas. Seus olhos, um verde-esmeralda penetrante, estavam focados em mim, analisando-me com uma intensidade que senti até o âmago.
Ela desviou o olhar quando nossos olhos se encontraram, com um gesto carregado de desinteresse.
Eu fiz o mesmo.
A incerteza sobre como interagir com ela e os outros personagens da minha própria novel estava pesando em minha cabeça.
Eu não sabia o que deveria fazer daqui para frente nesse mundo, mas tinha certeza de que sobreviver era minha prioridade.
Ficar longe dos personagens principais, pelo menos no início, parecia ser a melhor escolha.
Afinal, eu não queria estar envolvido nos acontecimentos principais da minha novel naquele momento.
Olhando para o relógio digital grande na parede, percebi que era 11:45.
Como todas as apresentações já haviam acabado, eu precisava sair da Spectra e voltar para casa, verificar como Noah e Emma estavam.