Vilão da Minha Própria Novel - Capítulo 03
Capítulo 03 – A Jornada Começa(3)
Chegando em casa, o som familiar da televisão preencheu meus ouvidos antes mesmo de eu abrir a porta.
Noah e Emma estavam acomodados no sofá, absorvidos em um desenho animado colorido.
― É o Evan, ele chegou!
Emma veio pulando do sofá e correndo em minha direção, com um brilho nos olhos que era contagiante.
― Oi, Emma. Oi, Noah. Vocês ficaram bem sem mim? ― perguntei, tentando não parecer estranho.
― Claro que sim! Quem pensa que somos?
Noah respondeu com um olhar confiante, tentando exibir uma maturidade que contrastava com sua idade.
O orgulho dele era evidente, e eu não pude evitar sorrir diante de sua postura.
― Evan, ― disse Emma com uma expressão séria. ― A professora veio até aqui hoje.
Suas palavras me atingiram como um balde de água fria.
Na correria do dia, eu havia esquecido completamente que Emma e Noah precisavam ir para a escola.
― O que ela disse? ― perguntei, tentando disfarçar minha preocupação.
― Ela queria saber por que não fomos à aula hoje, já que nunca faltamos. Dissemos que hoje era o dia em que nosso irmão iria entrar para a Spectra. Como poderíamos atrapalhar nosso irmão em seu primeiro dia? ― explicou Noah, cruzando os braços com uma expressão de seriedade.
Sua lealdade e compreensão, mesmo tão jovem, eram algo que deixaria qualquer irmão mais velho feliz.
‘Mesmo sendo meu primeiro dia nesse mundo, ele não vai esperar eu me adaptar a ele.’
Mesmo que tudo estivesse acontecendo rápido demais, eu precisava seguir o ritmo.
Percebi que teria que conversar com a professora deles e me desculpar.
‘Cuidar de Emma e Noah vai passar a ser minha obrigação agora?’
Me perguntei internamente enquanto os encarava.
Emma interrompeu meus pensamentos.
― Evan, você está bem? Parece preocupado…
Balancei a cabeça, afastando as preocupações.
― Desculpe, estava pensando. É hora do almoço, vocês estão com fome? ― perguntei, virando-me para a cozinha.
― Sim!!
A resposta deles foi um coro animado que ecoou minha própria fome.
― Ótimo, vamos ver o que podemos preparar então ― disse, revirando os armários em busca de ingredientes.
Eu sabia que pensar muito não iria resolver nada, então decidi deixar de lado.
====
Morar sozinho na Terra me ensinou a ser independente, e cozinhar se tornou uma habilidade útil.
Decidi preparar algo simples, porém nutritivo: macarrão ao alho e óleo com vegetais salteados. Os aromas começaram a preencher a cozinha, trazendo uma sensação de aconchego ao lar.
Enquanto o almoço estava sendo preparado, Emma e Noah observavam atentamente, seus olhos seguindo cada movimento meu.
Eventualmente, o almoço ficou pronto e nós nos sentamos para comer.
O silêncio que se seguiu, quebrado apenas pelos sons de talheres, acabou sendo um testemunho da minha habilidade culinária improvisada.
‘…’
Após a refeição, enquanto Emma e Noah voltavam para o sofá, decidi me retirar para o quarto.
Chegando no quarto, não pude evitar a surpresa.
A simplicidade do quarto me atingiu novamente ao entrar.
O quarto de Evan, diferentemente do resto da casa, era marcado pela austeridade. Um colchão diretamente no chão, uma pequena mesa de cabeceira com um abajur, um guarda-roupa antigo e algumas prateleiras com livros velhos e cadernos.
Até mesmo um celular decente ele não tinha, algo tão comum.
Na verdade, o que ele tinha era algo antigo demais para se chamar de celular; parecia ter saído de um museu de eletrônicos.
Observando o quarto, um sentimento pesado de tristeza desceu sobre mim.
Suspirei…
― …Talvez eu tenha sido duro demais na criação de Evan, ― murmurei para mim mesmo, sentindo um peso de culpa enquanto coçava a cabeça.
Evan, apesar das adversidades, se mantinha resiliente, cuidando de seus irmãos com pouco em termos de conforto ou luxo.
Sentando-me na beirada do colchão, permiti-me um momento de reflexão.
As paredes simples ecoavam uma vida de lutas e simplicidade.
No entanto, era tarde para lamentar as dificuldades que eu tinha imposto a Evan em sua história.
― Agora é tarde para pensar nessas coisas.
Levantei-me, sacudindo a melancolia.
Em três dias eu teria que participar da prova prática em grupo que iria acontecer na Spectra.
Eu precisava manter o foco e me preparar.
Foi então que, por um instante, pensei na janela de status, questionando-me sobre sua existência neste mundo.
Foi então que, como se comandada por meu pensamento, ela materializou-se diante de mim, flutuando no ar.
Uma interface translúcida mostrava meus atributos, habilidades e uma visão geral do meu estado atual. Era algo que somente eu podia ver.
― Como eu imaginei, eu só preciso pensar nela que ela aparece.
A janela de status não era apenas uma ferramenta; era a prova de que tudo aquilo era real e eu estava realmente vivendo em outro mundo.
[Nome: Evan]
[Idade: 17 anos]
[Vitalidade: 7]
[Estamina: 3]
[Poder Mágico: 6]
[Força Física: 3]
[Habilidades]
-
- Manipulação de Sombras
[Pontos: 55]
― Então, essas são minhas especificações agora? ― comentei, surpreso com a clareza das informações.
Meus olhos logo se fixaram nos “55 pontos”.
Esses pontos eram pontos de recompensa por tarefas que Evan havia completado. Evan não era obrigado a fazer as missões do sistema, mas quanto mais as completava, mais pontos ele ganhava, que podiam ser usados para desbloquear novas habilidades.
Ele também poderia receber pontos conforme usava suas habilidades de sombras.
Esses pontos eram recebidos como uma recompensa por aumentar sua maestria com certas habilidades que tinha.
Eu olhei fixamente para duas habilidades em específico que estavam bloqueadas.
▷ Camuflagem Sombria [Custo: 200 Pontos]
▷ Lâminas da Lua Negra [Custo: 500 Pontos]
― Camuflagem Sombria e Lâminas da Lua Negra, ambas são bastante boas.
“Hmmm!” Com a mão no queixo, murmurei.
― Das duas habilidades, a que vale a pena pegar é a Camuflagem Sombria.
Essa foi uma habilidade bem útil que criei para Evan. Ela permitia envolver meu corpo nas sombras, tornando-me praticamente invisível e impossível de ser detectado.
Com determinação, afirmei para mim mesmo.
― Preciso adquirir essa habilidade futuramente.
― Ah~ Espera, o que é isso?
▷ [Olhos do Abismo – Habilidade especial por tempo limitado!]
O que essa habilidade está fazendo aqui?
“Olhos do Abismo” era uma habilidade que eu havia planejado introduzir bem mais adiante na história. Eu não entendia por que ela estava aparecendo para mim agora.
▷ Olhos do Abismo [1000 Pontos para 200]
― Está muito barato.
A habilidade tinha saído de seu valor de 1000 pontos e estava sendo vendida para mim por 200 pontos. Isso era bom demais para qualquer um.
Dei um sorriso ao ver aquilo.
― Esse sistema astuto…
Ele estava me oferecendo uma habilidade muito boa logo no início porque sabia que eu não poderia suportar as consequências de usá-la.
‘Ele quer ver até onde vai minha ganância.’
[Ver detalhes da habilidade]
Expandi a janela de detalhes para ver com clareza a habilidade.
Olhos do Abismo
Olhos do Abismo é uma habilidade ocular rara e devastadora, capaz de distorcer a realidade para o oponente. Ao ser ativada, os olhos do usuário brilham em um escarlate profundo, quase sombrio, mergulhando o inimigo em ilusões que confundem os sentidos e alteram drasticamente a passagem do tempo, fazendo segundos parecerem eternos.
Além disso, o usuário adquire uma percepção elevada, sendo capaz de sentir a presença e a aura dos adversários mesmo com os olhos fechados, como se enxergasse suas intenções e movimentos no próprio ar ao redor.
Capacidades:
Ilusões Aterrorizantes: Pode criar cenários ilusórios específicos para cada adversário, baseados em seus medos mais profundos ou traumas passados, paralisando-os com terror ou hesitação.
Distorção do Tempo e Espaço: Permite desacelerar ou acelerar a percepção do tempo na mente de seu adversário, fazendo segundos parecerem horas ou vice-versa, desorientando completamente o senso de timing em combate.
Limitações:
Desgaste Mental: Olhos do Abismo exige uma concentração extrema e drena intensamente a energia mental e física do usuário. Se usada além do limite, pode levar a exaustão severa e até colapsos.
― Isso é loucura, ― murmurei baixo.
― Se eu usasse qualquer uma dessas capacidades no meu estado atual, quanto tempo eu aguentaria sem sofrer um colapso?
A habilidade que eu havia criado já trazia problemas para Evan em minha novel, que já estava forte e tinha uma maestria absoluta com suas sombras.
Para alguém como eu, que tinha acabado de receber os poderes, pegar essa habilidade seria maluquice.
Com uma mão no queixo, pensei um pouco, fechei a janela do sistema e me concentrei em experimentar o poder das sombras mencionado no sistema.
‘Vou ignorar as habilidades da loja do sistema, por enquanto.’
Fechei os olhos por um momento, concentrando-me.
Foi então que senti uma presença escura se intensificar dentro de mim, como se estivesse despertando de um longo sono.
Ao abrir os olhos, as sombras começaram a se expandir, emergindo lentamente do meu corpo. Elas eram densas, escuras, e pareciam vivas, movendo-se com uma fluidez quase hipnótica.
Esses tentáculos sombrios dançavam ao meu redor, ondulando no ar como serpentes, ajustando-se perfeitamente às minhas intenções.
“Uau…”
Fascinado, estendi a mão, e as sombras responderam instantaneamente, como se fossem uma extensão dos meus próprios músculos.
Eu movia os braços, e as sombras seguiam, reproduzindo os movimentos com uma precisão assustadora, acompanhando cada gesto meu com uma sintonia perfeita.
“Whoosh…”
Elas cortavam o ar de maneira controlada, mas também brutal.
‘Tenho que ir com calma, já que não quero destruir a parede do quarto.’
Era a primeira vez que manipulava essas sombras, e uma excitação crescente tomava conta de mim.
Decidi testar um pouco mais.
“…”
“…..”
Passei a tarde treinando minhas habilidades até sentir meu poder mágico se esgotar quase por completo.
Levantando-me do chão, exausto, apertei um dos punhos. Uma onda de felicidade e motivação me invadia por ter conseguido um controle tão natural sobre as sombras.
‘Achei que seria mais difícil manipular as sombras que criei, mas sinto como se elas fossem uma extensão do meu corpo.’
Saindo do quarto, já eram 19:33. Encontrei Noah e Emma na sala, cercados por embalagens de doces.
― Estão com fome? ― perguntei, ainda com um sorriso.
― Nós comemos alguns doces.
Eu percebi.
Disse enquanto olhava para as embalagens vazias ao redor.
Coloquei a mão sobre a cabeça dos dois e os repreendi suavemente, explicando que comer doces no lugar de refeições não era saudável.
Por algum motivo, senti uma felicidade inesperada; talvez fosse pela satisfação de ter conseguido controlar com sucesso os poderes de Evan.
― Vou preparar algo para nós depois de tomar um banho, ― prometi, dirigindo-me ao banheiro.
Dentro do banheiro, olhando-me no espelho mais uma vez, refleti:
‘Ainda é difícil acreditar que esse sou eu agora.’
Finalmente entendi por que as pessoas me encararam quando entrei no auditório na Spectra.
Minha aparência era incomum, mais atraente do que a média, e meus olhos vermelhos se destacavam especialmente.
― Essa é uma aparência boa para alguém que seria um vilão, ― disse a mim mesmo com um sorriso.
Após o banho, enquanto me preparava para a noite, um sinal discreto capturou minha atenção.
Era a janela de status flutuando à frente, mas desta vez, algo estava diferente. Uma nova notificação piscava, um convite inesperado que fez meu coração acelerar.
[Missão do Sistema: Desafio no Campo de Treinamento]
Objetivo: Enfrentar Seraphina em um combate amistoso no campo de treinamento da Spectra.
Recompensa: 100 pontos do sistema.
….
……
Por um momento, fiquei paralisado, a informação processando lentamente em minha mente.
‘Lutar contra Seraphina?’
A ideia parecia absurda. Eu sabia bem do que ela era capaz; diferente de mim, ela treinava desde pequena.
‘E eu acabei de chegar nesse mundo.’
Como eu poderia ter alguma chance contra alguém assim?
― Mas o sistema não especificou nada como a condição de ter que ganhar a luta, ― murmurei.
― E 100 pontos… ― Isso era uma quantia muito alta para um simples combate amistoso.
― Não me lembro de ter adicionado algo assim em minha novel, ― pensei em voz alta.
‘Será que isso tem algo a ver com a oferta que recebi da habilidade “Olhos do Abismo”?’
‘Interessante, não acho que posso ganhar dela logo de cara. Mas se só tenho que lutar com ela, não me importo se irei perder. Eu preciso desses 100 pontos.’
Fechei a janela de notificação, sentindo uma nova onda de determinação me invadir.
Depois disso, preparei um jantar simples para mim e para meus irmãos.
Após comer, nós nos acomodamos para assistir a um desenho juntos, fechando a noite com um momento de união familiar que eu não estava acostumado.
====
06:00 da manhã.
Como eu estava acostumado a acordar cedo na Terra, no novo mundo também não foi um problema. Mas confesso que estava me sentindo meio cansado.
“Haaahm…”
Um bocejo escapou.
― Será que foi porque usei muito poder mágico ontem? Bom, não importa.
Comecei a preparar o café da manhã, antes de levar Noah e Emma à escola. Além disso, ainda tinha que ir ao meu trabalho de meio período hoje.
“Shhh”
Refletindo enquanto a água do café começava a ferver, lembrei-me do trabalho que Evan tinha conseguido para se sustentar, algo que eu havia planejado meticulosamente na história.
Ele trabalhava em um lavador de carros, uma ocupação humilde, mas que Evan abraçava com dedicação para garantir o bem-estar de seus irmãos.
“Puff”
Soltei uma risada irônica.
― Um aluno da Spectra como lavador de carros?
“Slurp… Ahh”
― É amargo como deveria ser, ― disse isso depois de tomar um gole de café.
Era quarta-feira, e eu só iria trabalhar até sábado de manhã.
Com a bolsa que Evan conseguiu na Spectra, ele não precisava mais se preocupar em ter que trabalhar fora para sustentar ele e seus dois irmãos.
Isso significava que, depois dessa semana, eu poderia focar todo o meu tempo na Spectra.
Depois de terminar o café da manhã e me preparar para o dia, acordei Emma e Noah para levá-los até a escola e me desculpar com a professora.
Após o tumulto e as revelações da noite anterior, eu sabia que esta manhã exigiria um esforço extra de minha parte.
Preparar o café da manhã foi só o começo. Acordar Noah e Emma com o aroma de panquecas e suco fresco trouxe um sorriso aos seus rostos.
― Bom dia! Prontos para um novo dia? ― anunciei, servindo-os e tentando parecer casual.
― Bom dia, Evan! ― responderam em uníssono, o entusiasmo em suas vozes dissipando qualquer resquício de cansaço que eu sentisse.
O café da manhã transcorreu entre risadas e planos para o dia.
Entretanto, uma tarefa pendente pesava sobre mim: pedir desculpas à professora de Noah e Emma pela ausência deles na escola.
Depois de colocar meu uniforme da Spectra, estávamos a caminho, sob o céu matinal que prometia um dia claro.
Chegando à escola, a ansiedade borbulhava em meu estômago enquanto guiava Noah e Emma até suas salas de aula; meus passos hesitantes ecoavam no corredor silencioso.
Uma vez que os deixei com seus amigos, dirigi-me à sala dos professores, procurando pela professora Lídia, a tutora deles.
― Bom dia, professora Lídia, ― cumprimentei-a, encontrando-a organizando alguns papéis em sua mesa.
Ela ergueu os olhos, seu olhar inicialmente sério suavizando ao me reconhecer.
― Ah, Evan. Bom dia. Estava esperando por você,
Havia uma mistura de repreensão e compreensão em sua voz.
― Eu ouvi sobre o que aconteceu ontem. Seus irmãos explicaram tudo.
Respirei fundo, reunindo minha coragem.
― Eu realmente sinto muito. Não deveria ter deixado que nada os impedisse de vir à escola. Não vai se repetir, eu prometo.
As palavras saíram apressadas, e meu olhar estava fixo no dela, buscando algum sinal de perdão.
“Ahhh”
A professora Lídia suspirou, uma expressão gentil substituindo a preocupação em seu rosto.
― Evan, eu sei das suas circunstâncias. Não se esforce tanto.
Sua mão repousou brevemente sobre a minha em um gesto de conforto.
― Sei que as coisas vão ficar mais corridas para você agora, mas não esqueça deles, está bem? Eles precisam de você.
Um sorriso tímido formou-se em meus lábios.
― Obrigado, professora Lídia. Eu prometo, vou fazer melhor.
Me despedi com um aceno, sentindo um peso se levantar de meus ombros.
Era estranho; em menos de uma semana, eu havia ganhado dois irmãos e estava começando a ficar cheio de responsabilidades.
Mas sabia que não podia fraquejar.
Com os irmãos seguros na escola e as desculpas aceitas, era hora de me focar no que estava por vir.
A Spectra.
O dia da prova prática se aproximava rapidamente, e eu sentia uma urgência crescente em aperfeiçoar minhas habilidades.
Caminhando em direção à academia, o sol já estava no horizonte, banhando a cidade com uma luz dourada.
― Hoje, ― murmurei para mim mesmo, com o olhar fixo na imponente estrutura da Spectra que se erguia à minha frente.
― É o verdadeiro começo.
Assim, com um novo senso de propósito, segui para a área de treinamento.
Meu objetivo?
Enfrentar Seraphina e ganhar os 100 pontos.
Consequências?
Eu não fazia ideia.