Vilão da Minha Própria Novel - Capítulo 12
Capítulo 12 – Fragmentos do Destino (1)
Com um movimento rápido, desferi um golpe em direção à entidade, minha espada cortou o ar com força e precisão.
“Swish!”
O impacto que esperei nunca veio.
Minha lâmina foi barrada por algo invisível, uma barreira que parecia se materializar antes mesmo de a espada se aproximar.
A força do bloqueio reverberou pelos meus braços, enviando uma onda de choque que quase me fez recuar.
Arregalei os olhos, ofegante.
‘Isso não é normal.’
Cada fibra do meu corpo gritava que aquele ser não era algo que poderia ser enfrentado de forma comum.
Mas não importava.
Eu não iria recuar.
Respirei fundo, ajustei a empunhadura e ataquei novamente, desta vez com mais força.
“Clang!”
Minha lâmina foi repelida mais uma vez, a barreira invisível permanecendo inquebrável. A frustração subiu como um fogo ardente dentro de mim.
Era como se eu estivesse tentando cortar uma parede feita de ferro puro.
“Tsk!” ― Que droga!
Reuni minha determinação mais uma vez, ignorando o peso crescente nos meus braços e o cansaço pulsando em minhas pernas.
Eu me recusei a desistir. Ataquei novamente.
“Bang!”
Mas novamente, nada.
A barreira sequer tremia. Era como lutar contra o próprio ar, um adversário intangível e invencível. A cada golpe, a realidade se tornava mais clara: eu não era párea para aquilo.
― Como.. você conhece Evan e eu?
Minha respiração estava pesada, mas não ousei desviar o olhar da entidade.
― O que você quer?
A figura não respondeu.
Ela me olhava como se meu esforço fosse uma curiosidade momentânea, algo que não merecia uma reação real. Aquilo me enfureceu ainda mais. Mas antes que pudesse agir novamente, ela moveu a mão.
Uma força avassaladora me atingiu como uma onda invisível.
“Bzzt!”
― Argh…!
Minhas pernas vacilaram, minha respiração tornou-se curta, e minhas mãos tremeram até que a espada caiu no chão com um baque seco.
― Por que… por que você está fazendo isso?
A figura inclinou-se levemente para frente, sua voz agora mais baixa, quase um sussurro.
― Porque teus passos e os dele estão conectados de maneiras que ainda não compreendes.
Minha visão parecia embaçada, mas mesmo assim continuei a encará-la.
― Você não sabe nada sobre mim!
Ela não respondeu de imediato.
Apenas me observou, seu olhar estava carregado de algo que eu odiava…
― Ei…não tente sentir pena de mim…
― Frustração, dor, a busca incessante… Achas que o vazio que sentes se preencherá com respostas….
― PARE!
Gritei.
― Cala a boca.
Sabia que ela tinha razão.
As noites sem dormir, a culpa por não ter conseguido fazer nada quando meu pai morreu, o peso de tentar encontrar um inimigo invisível. Tudo isso estava lá, uma corrente pesada que me puxava para baixo todos os dias.
Era sufocante.
― O que você quer de Evan? ― perguntei novamente.
Minha voz estava oscilando entre raiva e desespero, enquanto minha mente lutava para compreender o que estava acontecendo.
A entidade inclinou a cabeça levemente para a direção de Evan, seus olhos brilhavam como se pudessem ver além de tudo que ele era.
― Tu o resguardas por instinto, mas não percebes o peso que ele carrega? O destino de Evan é um abismo. Ele caminha por um fio que não sustentará seus passos por muito tempo.
― O que isso significa?
― A morte que ele buscará será em vão.
Ela falava enquanto se afastava de mim.
― Ele lutara contra correntes que não poderá quebrar, e, no fim, falhará em proteger a ti e aos outros.
Essas palavras atingiram algo profundo dentro de mim.
Meus punhos se fecharam com força, mesmo quando a pressão ao meu redor começou a diminuir.
A força invisível que me prendia recuou lentamente, mas não sem deixar seu peso.
― Você… continua falando merda……
Ela não me respondeu.
Mas seu tom parecia carregar uma melancolia quase cruel.
O rosto da entidade permaneceu inalterado, mas havia algo em seus olhos que parecia se apertar, como se aquilo fosse mais uma constatação do que uma premonição.
Meu peito apertou, e uma sensação amarga tomou conta de mim.
“….”
De repente, a pressão desapareceu completamente.
Meu corpo caiu no chão como uma marionete cujas cordas haviam sido cortadas.
Minhas mãos afundaram na terra fria, e minha respiração estava pesada.
Mesmo assim, levantei a cabeça, determinada a não ceder.
― Você… só está falando merda.
― Tu continuas a lutar contra correntes que não vê, buscando algo que talvez nunca possas encontrar. E Evan… ele carrega o peso de proteger aquilo que não entende.
Antes que pudesse reagir, senti minha consciência começar a se apagar.
― Aquele que caminha ao teu lado, cujos olhos revelam um abismo de verdades ocultas sobre ti, será o mesmo que, sob o véu da traição, desferirá o golpe mais profundo.
Minha visão ficou turva, mas, antes de tudo desaparecer, o olhar da entidade foi a última coisa que vi.
Não havia desprezo, apenas algo que parecia uma tristeza infinita.
E então, escuridão me envolveu completamente.
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Enfermaria da Spectra – 14h11.
Tudo começou com o vazio.
Não havia dor, sons ou luz; apenas o silêncio absoluto de uma mente desligada.
Então, aos poucos, como se uma onda começasse a se formar no horizonte, a consciência foi retornando.
Primeiro vieram os sons, abafados, como murmúrios além de uma parede distante.
Em seguida, o toque: lençóis macios contra a pele e um colchão firme, mas não desconfortável, sob o corpo.
Minha cabeça latejava, e uma dor surda nas costelas me fez franzir o cenho.
Pisquei uma vez, duas vezes, tentando me ajustar à luz branca e ofuscante da sala.
Respirei fundo, sentindo meus pulmões reclamarem como se algo os tivesse comprimido por horas.
Sentei-me lentamente com movimentos cautelosos para não provocar mais dor.
Meus olhos vasculharam o ambiente: uma enfermaria.
O símbolo familiar da Spectra adornava a parede à minha frente, confirmando minha localização.
― Como eu vim parar aqui? ― murmurei sentindo minha voz rouca e arranhada, como se eu não a tivesse usado por dias.
Antes que pudesse juntar minhas ideias, a imagem familiar de notificações apareceu na minha frente, marcando a chegada de mensagens do sistema.
[Missão do Sistema: O Observador nas Sombras]
Você atendeu as condições necessárias da missão.
Recompensas:
➤ Vitória:
Habilidade Especial: Caso derrote a entidade, você terá a opção de escolher uma habilidade especial que deseja adquirir.
➤ Derrota:
80 Pontos do Sistema: Caso seja derrotado, você receberá 80 pontos do sistema como consolo. Este ganho reflete o aprendizado e a experiência adquiridos na batalha, mesmo na derrota.
➤ Condições:
Sobrevivência: Você deve sobreviver ao encontro com a entidade, independentemente do resultado.
[80 Pontos do sistema foram adquiridos por atender aos requisitos da missão.]
[6 Pontos do sistema foram adquiridos por maestria com Manipulação das Sombras.]
[Pontos Atuais: 260.]
Suspirei, lendo as mensagens com atenção. O texto confirmava o que eu já suspeitava: sobrevivi, mas não por mérito. Não havia vitória naquela missão, apenas uma retirada forçada com o pouco que me restava.
‘Então é isso… sobreviver já era suficiente para o sistema.’ ― disse enquanto me lembrava do que havia acontecido.
‘Aquele ser entidade.’
Eu me afastei do grupo porque sabia que não podia envolvê-los em algo que dizia respeito apenas a mim.
Foi uma decisão que tomei depois de pensar muito. Mas, no final, não fiz nada além de ser esmagado por um poder que eu sequer entendia.
‘Que diabos eu estava pensando?’
Meus pensamentos estavam carregados de frustração.
Lembranças nebulosas do encontro surgiram, uma mistura de desespero e impotência.
A entidade era diferente de tudo que eu havia criado.
Eu sabia disso com certeza: aquilo não fazia parte da novel que escrevi.
Ainda assim, havia algo familiar nela.
‘Como ela sabia sobre Evan? Como ela sabia sobre o destino dele? E por que parecia tão convicta…?’
Tentei organizar meus pensamentos, mas eles se espalhavam como folhas ao vento.
Levantei-me, cambaleando levemente ao sentir a fraqueza que ainda tomava conta do meu corpo.
A luz suave da enfermaria parecia apertar os cantos da minha visão, e o silêncio ao redor apenas amplificava o caos na minha mente.
‘A entidade falou como se o futuro já estivesse escrito, como se o destino fosse inevitável. Mas de que futuro ela falava, o futuro de Evan…Ou o meu?’
Caminhei até a janela, observando o terreno da Spectra.
Estava tudo tão normal, tão em paz, que parecia impossível acreditar no que tinha acontecido há tão pouco tempo.
Toquei a lateral da janela, deixando o frio do vidro me trazer de volta à realidade.
‘Eu preciso ficar mais forte. Poderia ter realmente morrido.’
Com isso, virei-me lentamente.
Meus olhos recaíram na porta da enfermaria.
‘E preciso de respostas. Quanto mais cedo, melhor.’
Uma variável que eu não conhecia havia surgido.
Os pensamentos sobre a entidade e o que ela queria de mim permaneceriam como uma sombra, mas havia algo mais urgente.
Algo que, por ora, era minha prioridade.
O que havia acontecido depois que desmaiei?
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Ao olhar ao redor, meus olhos se prenderam em uma figura deitada em uma das camas.
Por um instante, o susto tomou conta de mim, e meu coração acelerou.
Não esperava encontrá-la ali, tão vulnerável quanto eu.
Seraphina estava deitada, sua expressão serena, mas o leve movimento de seu peito subindo e descendo era a única prova de que estava bem.
A luz da tarde entrava pelas janelas altas da enfermaria, iluminando seu rosto parcialmente, enquanto as sombras suaves pareciam moldar a cena com um toque quase melancólico.
De repente, uma voz serena cortou o silêncio.
― Não se preocupe, ela só está dormindo.
Me virei rapidamente para a fonte do som, encontrando uma mulher que se aproximava com passos firmes, mas tranquilos.
― Eu sou a Dra. Lívia, ― disse ela, com um sorriso gentil.
A doutora tinha estatura média e cabelos presos em um coque simples, que emoldurava um rosto acolhedor.
Ela usava um par de óculos e seu jaleco branco exibia o brasão da Spectra, junto com um distintivo de identificação com seu nome e especialidade.
― Evan, você e Seraphina foram trazidos para cá juntos, ambos inconscientes. Pode me dizer o que aconteceu?
Engoli em seco, hesitando.
O que temi por alguns segundos, ao ver Seraphina na enfermaria, estava se tornando realidade
‘Então Seraphina foi me procurar e encontrou aquela entidade também? É por isso que ela está aqui? O que aconteceu com ela?’
Mais uma vez, eu estava com muitas dúvidas e nenhuma resposta.
A verdade sobre a entidade e a missão que o sistema me impôs era algo que eu não podia, ou melhor, não queria compartilhar.
Optei por uma meia verdade, simples o suficiente para não levantar suspeitas.
― Não me lembro direito, ― disse, evitando olhar diretamente para ela.
― Só me recordo de enfrentar algo… forte durante a prova. Foi tudo tão rápido…
Dra. Lívia me observou por um momento, seus olhos avaliando cada palavra.
Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, ela assentiu lentamente.
― Entendo. Bom, o importante é que vocês dois estão bem agora. Seus amigos estavam preocupados com vocês.
Seu tom era firme, mas tranquilizador, como se soubesse que eu não estava dizendo tudo, mas optasse por não pressionar naquele momento.
― Vocês só precisam de descanso. Se lembrar de algo mais, por favor, me avise.
Ela acrescentou oferecendo outro sorriso antes de se afastar para uma prateleira próxima.
Soltei um suspiro aliviado, sentindo o peso da conversa diminuir.
Caminhei até a janela novamente, olhando para o lado de fora.
O campus da Spectra parecia tranquilo sob o sol da tarde, uma calmaria que contrastava com o caos recente.
Minhas mãos se apoiaram no peito frio enquanto eu respirava fundo, tentando organizar os pensamentos.
A Spectra não era só um lugar de aprendizado; era um campo de provas constante, e cada escolha parecia pesar mais do que a anterior.
Meus olhos voltaram para Seraphina.
‘Se ela está aqui, inconsciente, e foi encontrada ao meu lado, é quase certo que ela foi atrás de mim. O que aconteceu entre ela e a entidade?’
“Tsk…” ― estralei a língua.
Minha mente estava girando com hipóteses e preocupações.
― Parece que você se preocupa muito com sua amiga, ― comentou Dra. Lívia, interrompendo meu devaneio.
Seu tom era casual, mas havia algo em sua observação que me fez hesitar antes de responder.
― Sim, claro. Ela é alguém importante para mim.
A resposta saiu calma, ensaiada, mas por dentro eu ponderava.
Minha preocupação não era com a segurança dela naquele momento, mas com as perguntas que poderiam surgir quando ela acordasse.
Achei que a Dra. Lívia iria suspeitar que eu estava preocupado com outra coisa, caso não tivesse dado aquela resposta.
Ela então sorriu, parecendo satisfeita com minha resposta, e se afastou novamente.
― Vou deixá-los a sós. Se precisar de algo, estarei naquela sala.
‘A sós? Agora parecemos imitamos?’
A doutora saiu e a solidão voltou à enfermaria, mas minha mente não estava nem perto de tranquila.
Abrir a janela do sistema para verificar como estava.
[Alerta do Sistema: Tempo restante até a posse completa pelo demônio: 4 anos.]
Era uma mensagem que sempre aparecia quando eu abria o sistema. Mas era completamente impossível se acostumar com aquilo.
― Quatro anos…
Minha visão ficou fixa na mensagem, como se as palavras pudessem mudar se eu as encarasse o suficiente.
― Só tenho isso de tempo então?
Suspirei novamente, o peso do que estava por vir pressionava meus ombros com força.
Eu tinha tentado ignorar aquilo, pelo menos por um tempo, mas aquela entidade havia vindo me lembrar, de forma brutal, o quão curto era o meu tempo.
Por alguns instantes, fiquei parado, olhando para o vazio do horizonte através da janela da enfermaria.
O sol tingia o céu de laranja e azul. Um contraste estranho para o turbilhão de pensamentos e incertezas que me assombravam.
Respirei fundo, tentando me concentrar em qualquer outra coisa.
Foi então que me lembrei.
― Certo, o trabalho.
O lembrete abrupto trouxe de volta a realidade cotidiana, um mundo que não parava, mesmo quando tudo dentro de mim parecia prestes a desmoronar.
Eu já estava atrasado.
Sr. Hendricks provavelmente estava me esperando e, apesar do cansaço que pesava em cada músculo do meu corpo, havia algo reconfortante na ideia de fazer algo mundano.
Mesmo que fosse temporário, ainda era necessário. Só precisava aguentar até sábado.
Com um último olhar para Seraphina, que ainda descansava profundamente, e com a promessa silenciosa de encontrar as respostas que precisava, me virei e caminhei para fora da enfermaria.
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14:45 da tarde. Enfermaria da Spectra
A luz dourada do sol da tarde entrava pela janela, projetando sombras suaves nas paredes da enfermaria.
Seraphina estava deitada na cama, os olhos abertos e fixos no teto.
Ela não estava dormindo.
Há muito tempo, havia acordado.
A quietude do ambiente contrastava com a tempestade de pensamentos que fervilhava em sua mente.
A entidade, suas palavras enigmáticas, e as implicações sombrias sobre Evan a perseguiam como um eco incessante.
A mão dela se fechou em um punho ao lembrar do momento em que tentou enfrentá-la.
Mesmo com sua força e determinação, Seraphina se sentiu como uma criança desarmada diante de algo além de sua compreensão.
‘Ele faria isso? Morrer por nós?’
A pergunta ecoou novamente em sua mente, e ela se virou na cama, incomodada.
Até então, Evan era só mais um rosto na Spectra, um rival no treino, uma presença irritante.
Mas agora…
As palavras da entidade vieram à tona.
“Sob o manto da traição, desferirá o golpe mais cruel.”
Como alguém disposto a morrer pelos outros poderia, ao mesmo tempo, ser acusado de traição?
Ela franziu o cenho, sentindo um peso no peito.
Havia algo em Evan, algo que ela não entendia.
A entidade havia mencionado um “conhecimento íntimo” que ele tinha sobre ela. Mas o quê? E por quê?
“Sigh…”
Seraphina suspirou, frustrada consigo mesma e com a situação.
Seu olhar vagueou pela enfermaria até que se deteve por um instante na cama ao lado, onde Evan estava.
Ele já não estava lá.
― Ele realmente saiu?
As palavras saíram num sussurro, e algo nela ficou inquieto.
Ela lembrou-se do momento em que o ouviu falar, ou pelo menos achou que ouviu, antes de fingir estar dormindo.
“Ela é alguém importante para mim.”
A frase soou em sua mente novamente, tão clara quanto antes.
Uma sensação estranha se formou em seu peito, como se algo pressionasse levemente seu coração.
Era desconfortável.
‘Importante? O que ele quis dizer com isso?’
Aquilo era irritante e confuso.
Ser considerada importante para alguém, que ela mal conhecia e, não gostava muito, a deixava com uma mistura de emoções conflitantes.
Com a mão na cabeça, onde uma pequena dor surgia, ela suspirou novamente.
― Esse idiota…
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