Vilão da Minha Própria Novel - Capítulo 13
Capítulo 13 – Fragmentos do Destino (2)
O pequeno escritório do lava-rápido tinha uma janela estreita que deixava entrar a luz da tarde, iluminando a figura robusta do Sr. Hendricks.
Ele estava encostado na mesa de madeira, os braços cruzados e uma expressão severa no rosto.
Ao lado dele, Leah, sua filha, olhava para Evan com as sobrancelhas franzidas, claramente irritada.
― Já disse, Evan, você não vai trabalhar hoje. Nem deveria estar andando por aí.
A voz de Hendricks saiu firme, mas com um toque de preocupação.
Evan, de pé no meio do pequeno escritório, parecia quase deslocado.
Sua postura estava rígida e o leve desconforto em seu rosto denunciavam que ele já esperava aquela reação, mas isso não o impediu de tentar.
― Sr. Hendricks, eu estou bem. Só foi um pouco de desgaste, nada que um pouco de descanso já não tenha resolvido. Não posso ficar parado e deixar as coisas acumularem aqui.
― Desgaste mágico não é pouca coisa, Evan.
Leah interveio, ela cruzou os braços enquanto o encarava.
― Eu liguei para a Spectra mais cedo já que você não havia chegado ainda. Eles disseram que você estava inconsciente, pelo amor de Deus! Você quer acabar desmaiando de novo?
Evan desviou o olhar por um momento, como se tentasse conter uma resposta que sabia que não ajudaria.
Leah apontou o dedo na direção dele enquanto falava.
― Você deveria estar descansando, e não se arrastando até aqui para lavar carros. Nem sequer era para você estar de pé ainda!
― Leah está certa.
Hendricks balançava a cabeça concordando com todas as palavras da garota, o que parecia até meio cômico para Evan.
― Não vou deixar você trabalhar hoje. Nem amanhã. Tire os próximos dias para descansar. Isso não é um pedido, é uma ordem.
― Isso mesmo! Espera… Leah! Sou eu que dou as ordens aqui.
Evan suspirou, passando a mão pela nuca enquanto olhava de Leah para Hendricks que discutiam.
Por mais teimoso que fosse, sabia que estava em desvantagem naquele ambiente.
― Eu realmente estou bem, mas…
Ele hesitou, sentindo os olhares firmes dos dois.
― Tudo bem, eu entendi. Vou para casa.
― Para casa, não, ― corrigiu Leah imediatamente.
― Olha, em vez de voltar para a Spectra, por que você não fica aqui?
Ela gesticulou para a direção da casa ao lado, visível pela janela do pequeno escritório.
― Você está acabado, Evan. Não vou deixar você andar por aí com essa cara de quem vai desmaiar de novo.
Evan franziu a testa, surpreso com a sugestão.
― Ficar aqui? Leah, eu não quero incomodar. Além disso, meus irmãos saem da escola às 16h30. Preciso ir buscá-los.
― Evan, escute, você não precisa se forçar assim.
― Ela está certa, garoto. Mas entendo que você quer buscar seus irmãos.
Leah estreitou os olhos, claramente não satisfeita com a situação.
― Nesse caso, eu vou com você.
Evan levantou a sobrancelha, surpreso.
― Leah, não precisa…
― Precisa sim. ― Ela interrompeu, categórica.
― Eu quero garantir que você está bem. E não adianta reclamar, porque é isso que vai acontecer.
Hendricks deu uma risada leve, balançando a cabeça.
― Olha, se ela decidiu, não tem muito o que fazer. Além disso, é bom saber que alguém vai estar lá caso você.
“Hmpf”
Evan bufou sabendo que argumentar seria inútil.
― Vocês dois são impossíveis.
Enquanto Leah puxava Evan pelo braço, guiando-o em direção à casa, Hendricks os observava, sua expressão firme suavizando por um momento.
Para ele, Evan era como um filho, e vê-lo cuidando da própria saúde era um alívio, mesmo que a contragosto.
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15:43 da tarde
O silêncio da enfermaria era quebrado apenas pelo som ocasional de passos e vozes abafadas ao longe.
Seraphina continuava deitada, os olhos fixos no teto, enquanto seus pensamentos giravam incontrolavelmente.
As palavras da entidade ecoavam em sua mente, uma memória recente, mas que parecia ter cravado raízes profundas.
Era desconcertante.
Evan parecia um mistério para ela, alguém arrogante e distante, com pouco mais do que sarcasmo e indiferença para oferecer.
E agora, ele era o centro de um mistério que ela não conseguia ignorar.
Ela suspirou profundamente, cobrindo os olhos com um braço.
‘E aquela coisa que a entidade disse? Sobre ele tentar morrer por nós… ninguém faria algo assim por alguém que não considera importante.’
O pensamento trouxe um peso ao seu peito, algo que ela não conseguia afastar.
‘E o que ele quis dizer com ter apenas quatro anos?’
As perguntas pareciam se multiplicar, cada uma sem resposta, e isso a deixava inquieta.
Mas havia algo ainda mais perturbador.
Seraphina não conseguia ignorar a sensação de que a mulher, aquela entidade enigmática, sabia mais do que deixara transparecer.
‘E se ela soubesse… sobre meu pai?’
A ideia fez o coração de Seraphina bater mais rápido. Durante anos, ela havia procurado respostas, perseguido qualquer pista, qualquer fragmento que a levasse à verdade sobre a morte dele.
‘Aquela mulher… ela parecia saber tanto sobre mim, sobre Evan… Será que ela também sabe quem o matou?’
A possibilidade parecia tão real que doía.
Era como se, pela primeira vez, a verdade estivesse ao seu alcance, mas completamente fora de seu controle.
“Creeeak.”
O ranger suave da porta quebrou sua concentração, puxando-a de volta para a realidade.
Dra. Lívia entrou na sala, carregando uma prancheta.
Ela lançou um olhar surpreso ao perceber que Seraphina estava acordada.
― Ah, Seraphina! Já está acordada? Desde quando? ― perguntou Dra. Lívia, aproximando-se com curiosidade.
Seraphina sentou-se na cama, escondendo a confusão interior por trás de uma expressão neutra.
― Acabei de acordar.
A mentira saiu sem esforço, enquanto ela tentava parecer indiferente.
― E o garoto? Ele estava aqui com você, não estava?
A médica olhou ao redor, como se esperasse encontrar Evan em algum canto da sala.
Seraphina franziu o cenho levemente, fingindo confusão.
― Quem, Evan? Quando abri os olhos, estava sozinha.
Dra. Lívia suspirou, balançando a cabeça.
― Tsk. Ele já saiu daqui? Ainda não está em condições de andar por aí. Ele deveria estar descansando.
O tom de preocupação da médica fez com que Seraphina sentisse algo estranho no peito.
Antes que pudesse se conter, as palavras escaparam.
― Ele está… mal?
― Não, não é nada grave, ― respondeu Dra. Lívia, acenando com a cabeça para tranquilizá-la.
― Ele apenas exauriu muita energia mágica. Precisa de repouso, só isso.
Seraphina relaxou um pouco, mas a curiosidade persistia.
Ela queria entender por que Evan estava tão determinado, mesmo debilitado.
“…”
Como se percebesse os pensamentos da garota, Dra. Lívia acrescentou, com um leve sorriso nos lábios.
― Ele mostrou a mesma preocupação ao ver você aqui, desacordada.
Aquelas palavras pegaram Seraphina desprevenida.
Ela tentou esconder a reação, mas o leve calor subindo em seu rosto entregava seu desconforto.
As lembranças voltaram como uma enxurrada.
A voz de Evan, as palavras que ele havia dito enquanto ela fingia dormir.
“Ela é importante para mim.”
As palavras pareciam ecoar em sua mente, misturando-se com a revelação da Dra. Lívia.
Seraphina baixou os olhos, tentando processar tudo aquilo.
‘O que ele quis dizer com isso? Por que eu sou importante para ele?’
Por um momento, ela ficou em silêncio, os olhos fixos no lençol enquanto uma confusão de emoções se acumulava em seu peito.
‘Isso não faz sentido… ou faz?’
Respirando fundo, Seraphina ergueu a cabeça, esforçando-se para manter a compostura.
Sua mente fervilhava com perguntas e suposições que a deixavam inquieta.
Dra. Lívia, que ainda permanecia ao lado da cama, percebeu o tumulto silencioso de Seraphina e perguntou com gentileza.
― Seraphina, pode me dizer o que aconteceu durante a prova?
A pergunta foi direta, mas não invasiva, dita com a calma de alguém que estava acostumada a lidar com jovens em situações difíceis.
Seraphina, no entanto, congelou por um instante.
Ela sabia exatamente o que dizer.
‘Se eu contar algo que ela não deve saber… não, melhor manter a mesma história que Evan contou.’
Seraphina encontrou o olhar de Dra. Lívia e respondeu, controlando o tom para soar casual.
― Não me lembro direito. Foi tudo muito rápido. Um monstro apareceu, e depois ficou tudo confuso. Quando acordei, já estava aqui. Já estávamos bem cansados da batalha anterior.
Dra. Lívia observou por um instante, como se analisasse suas palavras. Então, com um pequeno sorriso, assentiu.
― Não se preocupe isso é bem comum. Provas práticas na Spectra podem ser exaustivas. Muitos estudantes acabam desmaiando e esquecendo partes do que aconteceu, especialmente quando estão no limite de sua energia mágica.
Houve um breve silêncio antes de Dra. Lívia continuar, com um tom tranquilizador.
― Ok, não vou incomodá-la mais por agora. Você precisa descansar. Se precisar de algo, estarei por perto, ― disse Dra. Lívia com um sorriso gentil, antes de se levantar e sair da sala com passos silenciosos.
“…..”
“…”
“Sigh”
Seraphina passou a mão pelos cabelos, tentando afastar a confusão que a dominava.
‘Eu não posso simplesmente ignorar isso.’
Seus olhos se voltaram para a janela, a luz suave da tarde filtrando-se através do vidro, mas não trazendo clareza alguma aos seus pensamentos.
‘Eu preciso falar com ele.’
A decisão formou-se em sua mente como uma lâmina.
Seraphina sabia que teria que confrontar Evan, questioná-lo sobre o que ele sabia, sobre o que ele havia dito e sobre o que realmente estava acontecendo.
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O silêncio preenchia meu quarto como um cobertor pesado, trazendo consigo uma sensação de solidão e introspecção.
Recostei-me na beira do colchão, fechando os olhos por um instante.
Quando os abri novamente, a janela do sistema já estava lá, como uma presença invisível para o mundo, mas inescapável para mim.
― Hoje foi um dia… complicado, ― murmurei para mim mesmo, o som da minha própria voz cortava o silêncio.
Minha mente revisitou os eventos do dia.
A entidade.
Seraphina.
Leah.
A preocupação de Hendricks e a insistência de Leah em me ajudar.
Era estranho pensar em como essas conexões pareciam tão reais agora, tão diferentes da ideia de uma história que eu havia escrito.
Toquei meu ombro esquerdo, ainda sentindo um peso sutil, como se o abraço daquela mulher… ou entidade… ainda estivesse comigo.
‘O que ela queria de mim? E por que parecia saber tanto sobre o futuro?’
A lembrança do seu olhar, das palavras enigmáticas, trouxe um calafrio.
Mas, ao mesmo tempo, outra cena insistia em voltar.
Leah, me arrastando para casa com Noah e Emma, quase me forçando a descansar.
“Heh”― Eles se importam demais, ― murmurei com um pequeno sorriso.
Leah e Hendricks sempre haviam tratado Evan como parte da família, algo que eu, agora ocupando sua vida, mal conseguia compreender.
Mas, de certa forma, aquele calor humano me fazia bem.
Sentei-me no colchão que estava chamando de cama, tentando ordenar meus pensamentos.
‘Eu preciso me preparar.’
A janela do sistema continuava lá, flutuando na minha visão como uma extensão da minha mente.
[Nome: Evan]
[Idade: 17 anos]
[Vitalidade: 7.2]
[Estamina: 3.4]
[Poder Mágico: 6.7]
[Força Física: 3.1]
[Habilidades]
- Manipulação de Sombras
[Pontos Disponíveis: 260]
Observei a tela por um momento, sentindo o peso da decisão que estava prestes a tomar.
Cada ponto era valioso, um reflexo das batalhas vencidas e dos desafios superados.
― 260 pontos…
“Haha”
Uma risada escapou antes que eu percebesse, quebrando o silêncio.
‘Nunca imaginei que teria tantos pontos tão cedo.’
Passei os olhos pela interface, analisando as opções.
▷ Manto das Sombras Etéreas [Custo: 200 Pontos]
▷ Lâminas da Lua Negra [Custo: 500 Pontos]
Meu olhar desceu para o item mais abaixo, aquele que não saía da minha cabeça desde que o vi pela primeira vez.
▷ Olhos do Abismo [1000 Pontos para 200]
“Sigh…”
Soltei um longo suspiro.
A escolha parecia simples, mas o peso dela era imenso.
― Olhos do Abismo…
Eu sabia que não poderia usar todo o potencial dessa habilidade imediatamente, mas seu poder era inegável.
Era a única opção lógica, principalmente depois do encontro com aquela entidade.
[Você tem certeza que deseja comprar Olhos do Abismo por 200 pontos?]
A janela parecia esperar, quase ansiosa, enquanto eu hesitava por um breve momento.
‘Sim!’
A minha confirmação ecoou pela janela do sistema, e a habilidade foi adquirida.
★ Habilidade Adquirida: Olhos do Abismo ★
[Pontos Atuais = 60]
Deixei os ombros relaxarem por um instante, mas antes que pudesse sentir alívio, uma sensação estranha se formou nos meus olhos.
― Hngh…
Um desconforto súbito surgiu nos meus olhos, como uma pressão que aumentava rapidamente.
Instintivamente, levei as mãos ao rosto.
A luz suave do quarto se transformou numa explosão de intensidade ofuscante, queimando como se fosse fogo puro.
“Ugh!”
Fechei os olhos, mas não houve alívio.
A dor atravessava meu crânio como milhares de agulhas incandescentes perfurando cada nervo.
Minha respiração ficou irregular, e o mundo ao meu redor começou a mudar.
As paredes ondulavam como ondas em um oceano furioso, o chão parecia derreter, e um zumbido baixo nos meus ouvidos crescia sem parar, até se tornar ensurdecedor.
― Mer…da… o que é isso?!
A dor atingiu um ápice insuportável.
Era como se algo dentro de mim estivesse se rompendo, abrindo uma porta que deveria permanecer trancada.
E então, algo aconteceu.
Uma onda de energia irrompeu dos meus olhos, atravessando tudo ao meu redor.
Por um momento, tudo se tornou escuro – uma escuridão intensa que apagou o mundo.
Mesmo de olhos fechados, eu via.
O quarto, os móveis, cada detalhe… e, além disso, eu podia sentir.
Sentia Noah e Emma no quarto ao lado, respirando suavemente em seus sonhos.
Cada pulsação, cada detalhe do ambiente ao meu redor estava gravado na minha mente como uma luz pulsante.
Mas o momento foi breve.
A onda de energia desapareceu tão rápido quanto veio, e, junto com ela, minha força.
― Dro…ga…
Minha voz mal era um sussurro enquanto meu corpo caía no colchão, exausto.
A última coisa que senti foi o vazio me puxando, antes de tudo desaparecer na escuridão.