Vilão da Minha Própria Novel - Capítulo 17
Capítulo 17 – Fragmentos do destino(6)
No momento exato em que tentei passar, Seraphina se afastou da parede com um movimento tão rápido que parecia ensaiado.
Antes que eu pudesse sequer processar, ela estava parada bem na minha frente, bloqueando meu caminho.
Os braços ainda cruzados, o olhar fixo e as sobrancelhas levemente franzidas transmitiam claramente uma mensagem: “Nem tente me ignorar.”
Parei no ato, quase trombando com ela. E com isso, não consegui evitar a careta de frustração.
― Sério?
Acabei soltando sem pensar, franzindo o cenho.
Seraphina arqueou uma sobrancelha, inclinando a cabeça levemente para o lado.
O olhar dela misturava irritação e um toque de diversão, o que só piorava a sensação de que eu estava em apuros.
― Você realmente achou que ia passar direto por mim? Depois de me deixar esperando esse tempo todo?
‘Esperando?’ ― franzi o cenho, confuso.
Mas, por instinto, deixei escapar:
― Ah… espera, você estava me esperando?
Os olhos dela se arregalaram por um instante, como se tivesse percebido o que havia acabado de dizer.
Rapidamente, Seraphina desviou o olhar e revirou os olhos, tentando disfarçar.
― Não é isso, só achei que era uma boa ideia vir falar com você. Mas vi que você estava conversando com Maya e acabei esperando um pouco aqui.
Minha conversa com Maya tinha durado bem mais do que “pouco”, o que fez eu desejar que ela não tivesse ficado me esperando muito tempo.
Dependendo do humor dela, eu poderia acabar tendo muita dor de cabeça naquela conversa.
E de repente antes que eu pudesse inventar qualquer desculpa, ela deu um passo à frente, fechando ainda mais a distância entre nós.
Seus olhos verdes estavam me perfurando como lâminas.
― Precisamos conversar.
O peso na voz dela foi suficiente para calar qualquer resposta sarcástica que eu poderia dar. Mantive a postura, mas senti um frio na espinha ao lembrar do que aconteceu na prova pratica.
‘Então aconteceu realmente alguma coisa naquele dia.’
Ela percebendo minha hesitação não perdeu tempo.
― Você não acha que me deve uma explicação.
Fiz uma pausa, tentando organizar os pensamentos. Não adiantava mentir completamente; ela não acreditaria. Mas talvez eu pudesse dizer o mínimo necessário.
― Explicação? Sobre o quê?
Tentei soar despreocupado, mas eu sabia que estava longe de enganá-la.
Seraphina estreitou os olhos, a mandíbula levemente tensa.
― Durante a prova pratica, eu encontrei você desmaiado. E vi… aquela. mulher estranha…
O arrepio que percorreu minha nuca quase me fez estremecer. Tentei não transparecer nada, mas ela continuou, impiedosa.
― Ela disse coisas sobre você, sobre mim. Coisas que não fazem sentido. Eu quero saber o que foi aquilo. O que aconteceu de verdade?
Respirei fundo, desviando o olhar por um segundo.
As palavras dela eram tudo o que eu estava tentando evitar. Seraphina era persistente, e nada menos que uma resposta a faria parar.
Sabendo disso, resolvi dar a melhor resposta que tinha naquele momento.
― Não sei o que você viu ou ouviu, Seraphina. Mas nem eu sei exatamente o que aconteceu naquele dia.
Ela descruzou os braços e deu um passo mais perto, a intensidade de seu olhar parecia aumentar.
― Essa é a melhor resposta que você pode me dar?
‘Ela realmente não vai deixar passar de um jeito fácil’
― Aquela mulher… entidade… seja lá o que for, parecia estar atrás de você. Ela parecia saber coisas sobre as pessoas e você. Coisas que ninguém deveria saber. E ainda falou do futuro onde… ― ela hesitou por um instante, como se estivesse ponderando se deveria continuar.
― …ela disse que coisas ruins aconteceram no futuro, envolvendo você e outras pessoas.
Naquele momento, eu congelei por um segundo.
Meu coração acelerou, mas mantive minha expressão neutra.
A menção de que a entidade sabia sobre mim era como uma faca sendo girada no meu estômago.
‘Ela sabe sobre a maldição? Sobre eu ser de outro mundo? Não, impossível. Ela teria mencionado isso diretamente,’ ― pensei, tentando organizar minha mente enquanto o medo rastejava.
― O que você acha que isso significa?
Perguntei para me fingir de bobo.
Mesmo que eu não conhecesse de fato a mulher que apareceu durante a prova pratica. Era completamente fora de questão, ficar teorizando com Seraphina o que poderia ser aquela mulher e o que ela queria.
Ela então franziu o cenho.
Eu percebia sua mandíbula visivelmente tensa.
― Eu não sei! É por isso que estou perguntando! A única coisa que ficou clara naquele dia é que você não está seguro. E que tem muito mais sobre você do que você deixa transparecer.
Senti meu estômago afundar ainda mais.
Ela parecia realmente frustrada, parecia não saber sobre a maldição ou sobre eu ser de outro mundo, mas estava definitivamente no caminho de descobrir algo que eu não queria.
― Talvez… talvez ela estivesse tentando mexer com a sua cabeça.
― O que??
― Essa entidade parecia boa em manipular as pessoas. Quem sabe ela não estava tentando te confundir para desviar a atenção do que realmente importa?
Ela me encarou por um longo momento, visivelmente ponderando minha explicação. Sua expressão era uma mistura de frustração e dúvida, como se quisesse acreditar em mim, mas soubesse que havia algo a mais.
― Você realmente acha que foi isso?
― Não tenho certeza. Mas é o que faz mais sentido para mim.
Sinceramente, eu me sentia mal por não estar querendo chegar a uma resposta no assunto com ela, mas não era como se eu tivesse todas as respostas também.
“…”
“….”
O silêncio que seguiu minha resposta era constrangedor.
Seraphina estava com o olhar levemente inclinado para baixo, ela parecia viajar em seus próprios.
Mesmo depois de tudo o que eu disse, ela não parecia satisfeita. Nada fora do comum, considerando o tipo de pessoa que ela era.
― Talvez, se aquela mulher estiver certa… você realmente não está seguro. Talvez devêssemos contar isso aos instrutores. Eles poderiam ajudar!
Engoli a vontade de suspirar em voz alta, deixando o peso escapar apenas dentro de mim.
Estava começando a sentir o cansaço mental me atingir, mas sabia que demonstrar isso na frente dela só abriria mais espaço para perguntas que eu não queria responder.
― Contar aos instrutores? E o que exatamente você acha que eles fariam?
― Eles poderiam investigar. Você mesmo disse que não sabe o que aquela mulher queria. Talvez eles saibam lidar com isso.
Passei a mão pelos cabelos, desviando o olhar por um instante antes de voltar a encará-la.
― Não acho que seja tão simples assim. Envolver outras pessoas só criaria mais perguntas do que respostas. Eles fariam algo útil ou apenas tornariam tudo mais complicado?
Ela respirou fundo, parecendo ponderar. Mas o brilho de frustração em seus olhos deixava claro que ela ainda não estava convencida.
― Então o que você sugere? Fingir que nada aconteceu?
Fiz um gesto com as mãos, como se tentasse suavizar a tensão crescente.
― Não estou sugerindo isso. Só acho que precisamos esperar e entender mais antes de envolver outras pessoas.
Seraphina mordeu o lábio, como se estivesse tentando processar minhas palavras. Ela parecia mais calma, mas a tensão em sua postura ainda era evidente.
Vendo aquilo, eu só queria sair dali o mais rápido possível.
― Você sabe o quanto isso é frustrante? Saber que tem algo errado e não poder fazer nada sobre isso?
― Sim, eu sei. Mas, às vezes, não fazer nada é a única opção. Agir sem saber só ira piorar as coisas.
O silêncio voltou a nos envolver, mas desta vez parecia menos carregado.
Ela parecia refletir sobre o que eu havia dito, mas ainda não parecia completamente convencida.
Para mim, já era o suficiente.
A conversa precisava terminar antes que ela começasse a ligar mais pontos.
Dei um passo para trás, deixando claro que estava encerrando o assunto.
― Já disse tudo o que sei. Talvez tudo o que você ouviu tenha sido apenas besteiras ditas por aquela mulher. Ela também me confundiu com diversas idiotices, mas não posso me dar ao luxo de me preocupar com isso agora.
― Eu não sei… Então você acha que tudo o que ela disse foi só para nos confundir?
― Não vou te dar nenhuma resposta que eu não tenha Seraphina.
Virei-me para sair antes de continuar.
― Quem decide se o que eu disse vale alguma coisa ou não é você.
Achei que finalmente pudesse deixar a conversa para trás.
Mas, quando dei o primeiro passo, a voz dela me alcançou novamente.
― Evan.
Parei no ato e olhei por cima do ombro. Ela ainda estava lá, mas o olhar em seus olhos havia mudado. Não havia mais frustração ou irritação.
Era algo diferente, algo que me fez hesitar.
― O que eu sou para você?
“…”
Fiquei em silencio por alguns segundos.
A pergunta me pegou completamente desprevenido. Virei-me para encará-la, confuso com o tom e o momento daquela pergunta.
‘O que ela está tentando dizer? Isso é sobre a entidade? Será que ela sabe que eu… que eu os conheço?’ Que eu conheço os personagens?’
― O que você está tentando dizer?
Minha voz estava firme, mas eu sentia meu coração acelerar.
‘Porra de novo?’
Mais uma vez. A possibilidade de que a entidade tivesse contado algo a mais para ela era sufocante, e eu precisava entender o que ela queria de fato com essa pergunta.
Ela me encarou e continuou com um sorriso.
― Já faz alguns dias desde que nos conhecemos, não é? Passamos por algumas coisas juntos… Acho que fiquei curiosa.
Eu não conseguia analisar ela.
Seu tom era leve, mas a pergunta parecia carregar um peso que ela claramente tentava esconder. Mas o que poderia ser?
Não pude deixar de me perguntar.
‘Isso já está me deixando maluco.’
Mantive minha expressão o mais neutra possível e respondi.
― Você é… uma conhecida da Spectra.
Minha resposta saiu simples, direta e talvez fria.
O suficiente para evitar interpretações erradas ou abrir espaço para qualquer vínculo desnecessário.
Por um momento, o sorriso de Seraphina vacilou. Era quase imperceptível, mas estava lá.
Seus olhos buscaram os meus, talvez esperando algo mais, mas não havia nada que eu pudesse oferecer.
Ela ficou em silêncio por um segundo, e o corredor pareceu ainda mais quieto.
Então, de repente, ela colocou outro sorriso no rosto.
O que me surpreendeu mais uma vez.
― Bom, parece que é isso então.
O tom dela era casual, mas o sorriso não parecia verdadeiro.
Mas não era como se aquilo fosse problema meu.
Dei um passo para trás, deixando claro que não havia mais nada a ser dito.
Virei-me novamente e comecei a andar.
‘Isso foi por pouco,’ ― pensei, enquanto me afastava, deixando Seraphina para trás, ainda sentido ela me encarar.
Sabia que aquela conversa não estava realmente encerrada, mas, naquele momento, eu havia conseguido manter o controle.
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Corredor da Spectra – Mesmo momento
O som das vozes ainda ecoava na minha mente.
O frio da parede atrás de mim parecia inútil para acalmar meu corpo.
Tentei controlar minha respiração, mas meu coração batia descompassado.
― O que foi isso que acabei de escutar?
Tudo havia começado por acaso.
Eu estava apenas caminhando pelos corredores da Spectra, sem nenhum destino específico, quando me deparei com Evan e Seraphina conversando.
Eles estavam tão focados que não perceberam eu chegando.
Não era algo que eu esperava ou, sinceramente, queria escutar. Mas assim que percebi que não era uma simples conversa, algo me fez parar. E sem perceber acabei escutando o possível final da conversa.
‘Quem era essa mulher que eles mencionaram?’
A conversa tomou um tom ainda mais estranho quando ouvi Seraphina perguntar o que Evan era para ela.
O que ela quis dizer com aquilo?
Que tipo de interação era essa entre eles?
Desde quando eles têm esse tipo de conversa?
“Sigh”
‘Porra… isso tá bem diferente da novel que eu havia lido.’
Pressionei os dedos contra as têmporas, tentando organizar os pensamentos.
Era como se tudo o que eu conhecia sobre aquele mundo estivesse se desfazendo diante de mim.
O que quer que estivesse acontecendo, não fazia sentido.
E parecia que a minha presença era uma das principais fontes do problema.
Evan e Seraphina só iriam interagir em arcos futuros da novel, e eles nem eram próximos. Então não fazia sentido a conversa deles, muito menos as perguntas de Seraphina.
Tentei lembrar exatamente das palavras que peguei.
Não consegui juntar muito, apenas a menção de uma mulher e a pergunta de Seraphina, que pra mim e possivelmente até mesmo para Evan, não fazia sentido.
Como alguém que leu a novel, naturalmente eu sabia como tudo deveria se desenrolar.
Mas como as coisas já estavam mudando desde o início, o futuro com certeza seria diferente.
“Haaa…”
“…”
― Rachel? O que você está fazendo aí?
A pergunta me jogou de volta para a realidade.
Virei-me rapidamente e vi duas amigas minhas olhando para mim com curiosidade. Eu estava tão absorta na minha própria cabeça que nem percebi quando elas se aproximaram.
― Ah, só… saí para respirar um pouco.
― Sério?? Aqui?
― Sim. Eu já estava voltando.
Uma delas segurou meu braço com um sorriso.
― Bom, venha logo. Estávamos te esperando!
Eu assenti e segui com elas, tentando ao máximo focar na conversa leve que começamos enquanto caminhávamos juntas.
Estávamos indo revisar para a prova teórica que aconteceria em uma semana.
Apesar de tentar parecer interessada no que diziam, minha mente continuava vagando.
Por ter prestado atenção em todos os detalhes da novel, eu entendia bem os conceitos básicos sobre portais e fluxo mágico. Além disso, nunca tive dificuldades com os estudos, então a prova em si não era uma preocupação.
Mas ainda assim, era completamente impossível esquecer da conversa que tinha acabado de escutar.
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O som dos passos de Luna ecoava suavemente enquanto ela caminhava de volta da biblioteca.
Nos braços, alguns livros, e na mente, as preocupações de sempre: os estudos, as provas, e a constante movimentação da Spectra.
O corredor estava iluminado pela luz filtrada das janelas altas, criando sombras alongadas que dançavam nas paredes.
Ao virar uma esquina, seus olhos captaram Seraphina, encostada contra a parede com a cabeça baixa.
Luna parou por um instante, surpresa.
Não era incomum encontrar Seraphina sozinha, mas o que chamou sua atenção não foi a solidão.
Por um segundo, quando Seraphina percebeu a presença de Luna e levantou a cabeça.
Naquele momento Luna viu um semblante carregado, como se toda a força usual de Seraphina tivesse sido drenada.
A luz que passava pelas janelas parecia destacar ainda mais aquela expressão de melancolia silenciosa.
Luna piscou, quase incapaz de acreditar no que estava vendo.
Aquela era a mesma Seraphina que sempre carregava uma postura de confiança e determinação inabalável?
Sem pensar duas vezes, Luna se aproximou, hesitante, mas não se deixou intimidar pelo silêncio que pairava no ar.
― Ei, Sera, o que você está fazendo aqui sozinha? Se queria ficar em um lugar quieto porque não foi comigo na biblioteca.
A expressão de Seraphina mudou quase instantaneamente.
O olhar melancólico foi substituído por algo mais neutro, mas Luna sabia que aquela fração de segundo havia revelado mais do que Seraphina gostaria.
‘Bom parece que não sou a única que esta com a cabeça cheia,’ ― pensou ela
― Nada demais. Só… pensando.
― Pensando? Virou do tipo reflexiva agora?
Seraphina soltou um suspiro e balançou a cabeça.
― Tem algo em mente, Luna?
― Na verdade, sim.
Luna ajustou os livros em seus braços e mudou de assunto, respeitando o espaço de Seraphina.
― Queria te lembrar sobre a prova teórica da próxima semana. Você provavelmente não vai conseguir um resultado bom se continuar apenas treinando com espadas.
Seraphina arqueou uma sobrancelha, encarando Luna com um olhar de leve irritação.
― E quem disse que eu só treino com espadas?
Luna deu um sorriso provocativo, segurando os livros com mais firmeza enquanto começava a andar pelo corredor, esperando que Seraphina a acompanhasse.
― Ah, por favor, Sera. Todo mundo sabe que você mal encosta nos livros. Está sempre no campo de treino, suando e cortando coisas.
Seraphina bufou, cruzando os braços enquanto caminhava ao lado de Luna.
― Pode não parecer, mas eu estudo, sabia?
― Estuda? Tipo… de verdade? Ou apenas para passar em algo?
― E porque eu iria ficar perdendo tempo estudando atoa?
“Haha”
Luna riu levemente, ajustando os livros nos braços enquanto caminhava ao lado de Seraphina.
― Sério, só você para perguntar algo assim. Por que alguém estudaria além de só para passar?
Seraphina deu de ombros, o tom da voz quase desinteressado.
― Não vejo motivo. Passar já não é suficiente? O que mais alguém ganharia além disso?
―…Ahhhh, sei lá… talvez… conhecimento?
Luna revirou os olhos, mas um sorriso surgia em seus lábios.
― Só quero aprender aquilo que me interessa.
― Eu entendo, mas nem todo mundo quer se limitar a isso. Algumas pessoas realmente querem entender as coisas. Como o mundo funciona.
― Entender pra quê? Não é como se o conhecimento fosse resolver os problemas de verdade.
― Claro, porque tudo na vida é resolver as coisas com espadas.
Luna retrucou, revirando os olhos novamente.
Antes que Seraphina pudesse responder, Luna mudou repentinamente de assunto, lembrando-se de algo que haviam discutido antes.
― Ei, por falar nisso, você não foi resolver aquele negócio do uniforme?
Ela olhou para Seraphina de cima a baixo, apontando para a camisa de treino azul justa e a sobrecamisa branca aberta, que deixavam óbvio o quão apertado o uniforme ficava no corpo da amiga.
Seraphina lançou-lhe um olhar de leve curiosidade, antes de suspirar.
― Fui, sim. Já pedi os novos, mas só vou conseguir pegar no final dessa semana. Sabe como é, uniformes da Spectra não são exatamente simples de conseguir, mesmo com dinheiro sobrando.
― Se levarmos em consideração o quão boa é a proteção magica do uniforme, faz sentido demorar para conseguir novos.
Luna hesitou por um instante antes de continuar, a voz um pouco mais baixa.
― Ainda assim, você podia fechar essa camisa até os novos chegarem, sabe?
Seraphina franziu o cenho, claramente sem entender o que Luna queria dizer.
― Por quê?
Luna hesitou, ajustando os livros nos braços enquanto fazia um gesto vago, quase evitando o olhar direto de Seraphina.
― Porque… Você sabe como são os caras por aqui. Eles podem acabar… te olhando com outros olhos.
― Outros olhos?
Luna suspirou, revirando os olhos e tentando manter a compostura, mas uma pontada de desconforto passou por ela.
Não era exatamente sobre os caras, mas sobre a diferença entre elas. Por mais que odiasse admitir, às vezes se sentia um pouco insegura ao lado de Seraphina.
― Só acho que você podia evitar que algum idiota falasse ou pensasse besteira.
Seraphina sorriu percebendo onde a amiga queria chegar. Mesmo que não gostasse, ela resolveu retribuir a brincadeira de minutos atras da amiga sobre seu conhecimento.
― E o que tem de errado com o uniforme?
Ela perguntou abrindo levemente os braços para indicar a camiseta azul justa e a sobrecamisa branca aberta.
Luna fez uma careta, como se estivesse prestes a dizer algo, mas optou por ignorar aquilo completamente.
“Pffft…”
― Só… feche essa camisa, tá bom?
Sua voz soava quase autoritária, claramente tentando encerrar o assunto.
Seraphina riu baixinho, balançando a cabeça enquanto fechava a camisa com desdém teatral.
― Pronto, satisfeita?
― Você é tão impossível às vezes, sabia?
― E você se preocupa demais, Luna.
Nota:
“Neste momento especial do ano, desejo a todos vocês um Feliz Natal, repleto de alegria, amor e momentos inesquecíveis ao lado de quem vocês amam.”